I SÉRIE — NÚMERO 59
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Sr. Deputado, na semana passada, chegaram notícias de que na Galiza os bombeiros se recusaram a
arrombar portas para que a polícia não procedesse ao despejo de pessoas com 80 anos. Face às injustiças
que esta lei vai trazer, o Sr. Deputado não receia que isto possa vir a acontecer no nosso País? O Sr.
Deputado não receia que os bombeiros, em vez de arrombarem as portas, se sentem e pacificamente
comecem a cantar a Grândola?
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado António Prôa.
O Sr. António Prôa (PSD): — Sr.ª Presidente, agradeço, em primeiro lugar, aos Srs. Deputados que
tiveram a gentileza de me colocar perguntas.
Começo por responder à questão da injustiça, colocada pelo Sr. Deputado José Luís Ferreira.
Sr. Deputado, injustiça é o que se verifica na situação atual em que pessoas com elevados rendimentos
pagam rendas insignificantes,…
Vozes do PSD: — Muito bem!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Mas quem é que tem elevados rendimentos?! As pessoas vivem com pensões
de miséria!
O Sr. António Prôa (PSD): — … e senhorios que investiram as suas poupanças não veem remunerado o
seu investimento.
O Sr. João Oliveira (PCP): — O Sr. Deputado tem que mudar de bairro!
O Sr. António Prôa (PSD): — Isso, sim, é injustiça…
O Sr. Pedro Lynce (PSD): — Exatamente!
O Sr. António Prôa (PSD): — … e é com isso que queremos acabar. Queremos que quem pode pagar
passe a pagar de acordo com as suas possibilidades.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sabe que isso não é verdade!
O Sr. António Prôa (PSD): — Isso, sim, é justiça.
Aplausos do PSD.
Quanto à questão dos fogos devolutos, sejamos muito claros. Claro que a lei, entretanto, evoluiu, mas
subsistiu um problema que não foi resolvido — e, pelos vistos, ainda não é desta que os Srs. Deputados do
PCP o querem resolver —, que é o da insegurança relativamente à aplicação da lei. Foi essa insegurança que
inibiu a existência de um mercado de arrendamento e que fez com que pessoas com poucos rendimentos se
vissem obrigadas a hipotecar o seu futuro através de um empréstimo bancário. Se houvesse arrendamento, as
pessoas teriam rendimento disponível e mobilidade para encontrar outras oportunidades de emprego.
Com a atual situação e com o que os Srs. Deputados preconizam, manter-se-á a escravidão relativamente
aos bancos e a impossibilidade de as pessoas procurarem outras oportunidades de emprego por todo o País.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Não tivessem roubado os salários às pessoas! Roubaram os salários às
pessoas e agora a culpa é delas!