I SÉRIE — NÚMERO 59
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Entretanto, reassumiu a presidência a Presidente, Maria da Assunção Esteves.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Bernardino Soares.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Quero congratular-me pelo
facto de termos conseguido não confundir o acessório com o fundamental. O fundamental do nosso projeto de
lei é a revogação da lei das rendas — e sempre foi assim, isso era evidente para qualquer observador
mediano.
Mas não renegamos a nossa proposta, porque entendemos que, no momento de grave crise económica e
social que se está a atravessar, era justo suspender as atualizações. Não era para sempre, era no momento
que estamos a viver.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Isso não está já hoje em debate, mas não deixa de ser uma proposta
justa.
A nossa proposta de revogação é que resolve o problema e não o projeto de resolução — de resolução,
repare-se! — que o PS tem entregue, um projeto que diz que, se forem desempregados e se nunca tiverem
falhado, um dia sequer, a renda, então, vá lá, podem não ser despejados neste momento.
Há também quem diga — e disse-o agora o Sr. Deputado do PSD — que esta lei é essencial para
dinamizar o mercado de arrendamento. Repare-se bem: há mais de 200 000 pessoas com contratos anteriores
a 1990, e há 700 000 fogos devolutos. Mas o problema do mercado de arrendamento não são os 700 000
fogos devolutos, que os proprietários não põem no mercado, não! São os 200 000 idosos e outros
carenciados, que têm rendas mais baixas do que alguns senhorios gostariam de ter.
Então, o que é que os senhores fizeram para os 700 000 fogos devolutos virem para o mercado? Nada! Os
senhores não estão interessados em dinamizar o mercado de arrendamento; estão interessados em expulsar
das habitações, sobretudo nos centros das cidades, aqueles que têm rendas ainda abaixo daquilo que alguns
senhorios querem ter.
E devo dizer aqui o seguinte: quem vai beneficiar disto não são os pequenos senhorios, que, muitas vezes,
nem têm dinheiro para fazer obras nos seus patrimónios; quem vai beneficiar disto são os grandes fundos de
investimento do setor financeiro,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — … que vão comprar a esses senhorios os seus patrimónios nos
centros das cidades e fazer aí os seus belos negócios.
É para esses que esta lei é feita.
Aplausos do PCP.
Falou-se aqui muito de salvaguardas. Mas pergunto: é justo que, em qualquer circunstância, um inquilino,
por não ter respondido ao fim de 30 dias, seja sujeito ao regime de renda livre? É justo que isto aconteça,
quando muitos destes inquilinos são pessoas que não têm a literacia para enfrentar um problema desta
natureza, que não têm apoio, que estão isolados, muitos deles nem saem de casa?! É justo que, ao fim de 30
dias, sejam sujeitos à renda livre e às condições do senhorio?!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — É uma vergonha!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Isto nunca poderia acontecer! Nunca poderia haver uma espécie de
ónus em cima de quem é a parte mais frágil para responder aos senhorios!
Mas é que os senhores querem pôr fora de qualquer maneira! E por isso até vale quando não haja
informação ou condições para responder à altura a uma situação destas.