I SÉRIE — NÚMERO 64
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Por isso é que este Conceito assume, de uma forma frontal, aquilo que são as vulnerabilidades que o País
tem, mas também aquilo que são os ativos, os bens, os valores, aquilo que podemos agarrar para combater
essas vulnerabilidades.
Sabemos que, hoje, as vulnerabilidades assentam no desequilíbrio financeiro das nossas contas públicas,
de uma menor competitividade da nossa economia, do envelhecimento da nossa população, da dependência
energética, alimentar… Tudo isto são matérias referenciadas como vulnerabilidades, mas para as quais temos
ativos suficientes para poder ultrapassar, assim haja vontade e uma convocação coletiva para o fazer.
Temos a nossa História, a nossa identidade e coesão nacionais, a cultura e o nosso espaço linguístico, um
regime democrático consolidado, por muito que alguns desejem pô-lo em causa,…
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Muito bem!
O Sr. Ministro da Defesa Nacional: — … repito, um regime democrático consolidado — e, nos tempos
que correm, esse é um ativo extraordinariamente importante para aquilo que é a serenidade com que, fora de
portas, olham para os ajustamentos que Portugal está a fazer neste momento difícil da nossa História; a nossa
centralidade marítima, de território marítimo — igualmente um ativo fundamental para podermos ultrapassar as
nossas próprias vulnerabilidades, como ainda bem recentemente, o Governo, através da apresentação da
Estratégia Nacional para o Mar, pôde recolocar de forma concreta e não de forma romântica.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Muito bem!
O Sr. Ministro da Defesa Nacional: — Isto é falar de forma séria, transparente e, ao mesmo tempo,
chamar a atenção da sociedade para o grau de exigência que deve ter em relação ao Estado para que, tendo
estes ativos, cumpra o desígnio de encontrar um rumo, uma orientação estratégica que esteja para lá do mero
dia de amanhã.
É também por causa disso, por termos uma vontade de estar para lá do dia de amanhã, que ainda bem
recentemente o Ministério da Defesa Nacional e o Ministério da Educação fizeram um protocolo para
precisamente introduzir nos curricula e nas disciplinas dos ensinos básico e secundário a dimensão da
formação da cidadania, dos valores da defesa e dos valores que estão inerentes a um sentimento de que
Portugal, por via desses valores, também encontre um autoestímulo, um automotivo de orgulho que venha
desde a fase da educação das gerações mais novas.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado António
Braga.
O Sr. António Braga (PS): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, gostaria, em primeiro lugar, de também fazer um
comentário ao documento e dizer-lhe que ele se apresenta de forma pouco sistematizada, embora possamos
dizer eivado de boa vontade, relativamente à abordagem de novos temas a incluir no Conceito, certamente, e,
sobretudo, com uma espécie de linguagem a «armar ao fino», isto é, englobando culturalmente um conjunto
de outros conceitos, nomeadamente, e, ao contrário do que disse o Sr. Deputado José de Matos Correia,
tornando-se numa espécie de império relativamente às outras áreas do Governo. Isso não é verdade, nem no
Conceito em vigor, nem, como o Sr. Ministro muito bem sabe, em conceitos equivalentes de outros países,
designadamente com aqueles que nos podemos comparar, no contexto da própria União Europeia.
Já não falo nos perigos, pelo menos no da hermenêutica, que se pode fazer ao texto relativamente à
confusão entre segurança interna e defesa, no que diz respeito justamente à consolidação e à afirmação do
estado de autonomia do seu território.
Esse é o texto, Sr. Ministro, mas admitamos que ele, tendo esta falta de sistematização, misturando alguns
outros conceitos, tem a boa vontade de querer construir — e por isso ser um projeto — um novo Conceito que
aborde, sobretudo, as novas ameaças e o papel determinante — estamos de acordo, Sr. Ministro — que
Portugal tem de desempenhar no contexto internacional e nos compromissos das alianças, que, aliás,