I SÉRIE — NÚMERO 66
44
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para apresentar o projeto de resolução n.º 640/XII (2.ª), do PCP,
tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Já aqui foram feitas referências
relativamente à importância do túnel do Marão, mas importa salientar — aspeto que para nós é determinante
— que esta é uma obra fundamental para Trás-os-Montes para concluir um projeto, já muito desejado pelas
populações, de uma ligação rodoviária moderna, eficaz e segura entre Porto e Bragança.
O túnel do Marão assume, assim, uma importância estratégica para o desenvolvimento desta região, a
ligação rodoviária pode ser um instrumento para o desenvolvimento — e que falta faz! — da região.
Assim, a paragem das obras do túnel do Marão representa um crime económico e social. Um crime, porque
representou o despedimento de 1400 trabalhadores; um crime, porque representou a falência de mais de 90
empresas; um crime, porque representou um golpe brutal no comércio e serviços da região; um crime
económico e social, porque significa mais custos inerentes à manutenção e mais custos para o erário público
decorrentes da paragem de obra.
Passados que estão dois anos desde a paragem da construção do túnel, temos que assumir e apurar
responsabilidades relativamente a esta matéria. Se é verdade que tivemos períodos de paragem, aos quais é
incutida a responsabilidade pelas providências cautelares instauradas, a verdade é que a obra esteve parada
por responsabilidade do Governo do PS e agora está parada por responsabilidade do Governo PSD/CDS-PP.
Nós consideramos que as «lágrimas de crocodilo» aqui vertidas pelo PSD são de profunda hipocrisia, porque
o Governo tem instrumentos para resolver o problema de uma vez por todas. E importa aqui denunciar a
postura que tem sido seguida pelo Governo relativamente a esta matéria.
Em junho de 2011, logo a seguir à tomada de posse, o Governo PSD/CDS-PP suspendeu os trabalhos por
90 dias.
Em setembro de 2011, o Ministro da Economia disse que afinal não eram 60 dias, que iam prorrogar por
mais 60 dias. E esses 60 dias prolongaram-se até ao dia de hoje.
Em março de 2012, o Secretário de Estado das Obras Públicas aqui, no Parlamento, quando confrontado
pelo PCP, disse não sabia quando é que a obra podia ser reatada, nem se ia ser reatada por aquele
concessionário.
Portanto, o Governo é responsável político pelo impasse aqui criado e pelo facto de a obra não avançar.
Isto porque o Governo tem os instrumentos para resolver o problema, não o resolve porque não quer, pelo que
são «lágrimas de crocodilo» as que são vertidas pelo PSD.
Uma nota final relativamente aos projetos de resolução.
Foram apresentados projetos de resolução pelo PCP, pelo Partido Ecologista «Os Verdes», pelo PS e pelo
PSD; apenas o CDS-PP e o Bloco de Esquerda não o fizeram.
Para nós, os projetos de resolução apresentados versam sobre um aspeto fundamental com o qual
estamos totalmente de acordo e que é absolutamente determinante: a necessidade imediata da resolução do
problema político, bem como da retoma e conclusão de uma obra que, aliás, já está em elevado estado de
conclusão.
Portanto, o retomar da obra é para nós fundamental, sendo determinante aprovar os projetos de resolução
que foram apresentados.
Porém, há um outro aspeto que queremos destacar no nosso projeto de resolução: a necessidade de
apurar as responsabilidades de todos os intervenientes neste processo e de averiguar os prejuízos
decorrentes desta paragem da construção do túnel para o erário público, para o Estado português, prejuízos
esses que, naturalmente, seremos todos nós a pagar. Este ponto aparece no projeto de resolução do Partido
Ecologista «Os Verdes», já não aparece nos projetos de resolução do PS e do PSD. Mas, para nós, é
fundamental apurar essas responsabilidades.
Não posso concluir sem, antes, dizer que, para nós, é preciso pôr termo a este processo, que é uma
vergonha nacional, é uma vergonha para este Governo PSD/CDS-PP, e que tem a ver com a situação
verdadeiramente inaceitável de um túnel em que dois terços estão praticamente construídos, em que o Estado
português já gastou imenso dinheiro, em que a sua não conclusão acarreta um prejuízo brutal para a
população, em que toda a lógica do projeto de construção deste itinerário rodoviário está comprometida com a
não conclusão do túnel do Marão.