I SÉRIE — NÚMERO 70
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São essas duas necessidades, Sr. Deputado, que obrigam sempre, no curto prazo, à contração da
economia. Mas, Sr. Deputado, a economia não pode voltar a crescer enquanto o Estado não for disciplinado,
enquanto o crédito não for utilizado racionalmente…
O Sr. António José Seguro (PS): — É essa a nossa diferença!
O Sr. Primeiro-Ministro: — … e, portanto, enquanto não existir uma estratégia de cumprimento — e essa,
Sr. Deputado, eu tenho realizado.
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Concluo já, Sr.ª Presidente.
Diz o Sr. Deputado que nós falhamos as previsões.
Vozes do PS: — Todas!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Mas as previsões que o Governo fez, desde que tomou posse, foram
partilhadas pela Comissão Europeia, pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Central Europeu.
O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Assuma as suas responsabilidades!
O Sr. Primeiro-Ministro: — E devo dizer também (já o Sr. Ministro das Finanças o tinha referido aqui, no
Parlamento) que o fez, normalmente, com o apoio técnico do Banco de Portugal.
Sr. Deputado, não queira «tapar o sol com a peneira»! Nós fazemos ajustamentos nas previsões como
todos os institutos o fazem, como a Comissão Europeia faz e fez em relação a todos os países.
Há um aspeto que o Sr. Deputado não pode julgar demagogicamente, que é o facto de esses nossos
credores estarem de acordo de que estamos a corrigir os desequilíbrios que foram acumulados, e que foram
acumulados, Sr. Deputado, com a sua cumplicidade.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem agora a palavra, para formular uma pergunta, o Sr. Deputado Nuno Magalhães,
do CDS-PP.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, há cerca de uma semana,
Portugal concluiu a sétima avaliação do Programa de Ajustamento a que está sujeito e que veio na sequência
de um pedido de resgaste que, há quase dois anos, foi obrigado a pedir para pagar pensões e salários à
função pública, pagar dívidas de curto prazo a privados, que são seus fornecedores, e garantir funções
essenciais do Estado e, assim, fugir à situação de bancarrota em que se encontrava.
Ficou assim, Sr. Primeiro-Ministro, com dívidas para pagar, com planos de pagamento para cumprir, com
credores para negociar e com escassa margem para o fazer. E então, como afirmámos, a nossa soberania
ficou limitada e, num certo sentido, Portugal passou a estar numa situação de protetorado que, desde o
primeiro até ao último dia, é vexatória para um Estado-Nação, como o nosso País.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Este caminho, Sr. Primeiro-Ministro, nunca o negámos, tem sido um
percurso difícil, com escolhas difíceis e consequências muito difíceis para muitos portugueses. É certo que,
nestes quase dois anos, Portugal conseguiu equilibrar a balança comercial, recuperar a credibilidade externa
perdida, baixar sensivelmente as taxas de juro do nosso empréstimo, aumentar e diversificar as suas
exportações — isto só para dar alguns exemplos. Mas também é verdade, Sr. Primeiro-Ministro, que, ao
mesmo tempo, Portugal sofreu e sofre de uma recessão interna, sofreu e sofre, como nenhum outro país, da