30 DE MARÇO DE 2013
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de fazermos uma reflexão sobre o que se passou, sobre o que ainda se está a passar e, sobretudo, sobre o
que virá a acontecer na zona euro.
Esta reflexão presta-se pouco a demagogias e a análises imediatistas, mas é uma reflexão que tem de ser
feita com rapidez e também em tempo útil, o que implica que abordemos o assunto agora, sem complexos, e,
simultaneamente e não menos importante, sem alarmismos.
Antes de mais, importa deixar uma coisa muito, muito clara: para qualquer observador medianamente
atento e minimamente informado Portugal e Chipre e os respetivos sistemas bancários têm muito pouco em
comum, para não dizer que não têm nada em comum; são casos radicalmente diferentes.
Mais: a imagem e a credibilidade internacionais de Portugal são hoje, com muito mais facilidade,
comparadas às da Irlanda do que às da Grécia ou de Chipre. Este é um mérito, não dos bancos, certamente,
nem mesmo sequer do Governo, mas é, sim, um mérito do povo português, que teve, perante a crise, as
adversidades e as dificuldades, uma atitude de maturidade e de determinação que permitiu que Portugal, de
forma rápida, se impusesse internacionalmente como um País capaz de resolver e de ultrapassar os seus
problemas.
Aplausos do CDS-PP.
Portugal tem sido um País diferente, tem sido um País cumpridor e tem sido um País credível.
Desde o início, o CDS deixou claras várias razões para preocupação, relacionadas com as medidas
equacionadas para fazer face à crise em Chipre.
A primeira observação que fizemos tinha a ver com os princípios fundadores da União Europeia e, até mais
do que isso, com os princípios fundadores da Europa e o respeito que eles têm de nos merecer, mesmo nas
alturas de maiores dificuldades.
O princípio da economia de mercado, o princípio da livre circulação de capitais e, sobretudo, o respeito pela
propriedade privada e a segurança das poupanças são pilares absolutamente fundamentais e cruciais da
nossa conceção de Europa. Não compreendemos qualquer ideia de Europa que não passe, necessariamente,
por estes princípios.
O caso de Chipre, embora felizmente de forma bastante mais mitigada do que o inicialmente proposto pelo
governo cipriota, não pode contudo deixar de nos fazer parar para pensar. Sobretudo não pode deixar de nos
parecer que deveria ter havido, desde o princípio, mais respeito por estes princípios fundamentais e,
sobretudo, uma maior cautela e precaução na sugestão de medidas mais próprias de regimes comunistas,
que, felizmente, já passaram à História, mas que, decididamente, passaram à História de forma muito pouco
feliz e que não queremos nunca repetir.
Protestos do PCP.
A segunda preocupação que o CDS faz questão de salientar tem a ver com o princípio do cumprimento da
garantia dos depositantes, uma vez que o imposto sobre depósitos bancários, inicialmente pensado, se
aplicaria a todos os depósitos, pondo assim em causa o compromisso de proteção dos depósitos até 100 000
€.
Ora, isto, tecnicamente — e é preciso dizê-lo com clareza —, não é um imposto, é uma extorsão, e ainda
bem que não foi essa a solução encontrada.
Aplausos do CDS-PP.
Felizmente, desde então para cá, houve o bom senso de perceber que esta garantia não podia — e não
pode — ser posta em causa em hipótese alguma.
Mas há um outro princípio, diretamente relacionado com este último, que não pode deixar de sair de tudo
isto de certa forma enfraquecido: é o princípio da confiança no próprio sistema bancário em toda a zona euro.
E este, precisamente porque falamos num momento em que os bancos de Chipre já reabriram, pelo menos de
forma mitigada, tem de nos levar a uma reflexão profunda, que certamente não acabará hoje, mas que se
prolongará por muitos meses em toda a Europa.