I SÉRIE — NÚMERO 72
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É incrível que, de facto, o Partido Socialista não assuma as suas responsabilidades. E continua sem querer
assumir qualquer responsabilidade — é preferível defender o passado, esconder o que foi mal feito, martelar
os números, mas nunca atacar os problemas de frente. Isto é que é incrível!
Por isso, Sr.ª Deputada, acho interessante também esta nova narrativa de parar com a austeridade e de
parar de cavar um buraco. Quem disse isto foi o principal cavador deste buraco, foi o autor deste crime, o
autor deste problema em Portugal, o autor moral e material de tudo o que passa hoje, em Portugal, e que não
consegue assumir uma única responsabilidade numa entrevista de hora e meia, ontem, perante milhões e
milhões de portugueses.
Sr.ª Deputada, só posso concluir que os filósofos nunca foram bons a matemática.
Aplausos do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Cecília Meireles, devo dizer que tenho
algumas dificuldades em perceber a posição que tomou ainda há pouco aqui, no Parlamento, em resposta aos
outros grupos parlamentares.
Ouvimos, no fim de semana passado, as vozes que ecoaram para lá da reunião magna do CDS pedindo
remodelações do Governo. Curiosamente, dias depois, ouvimos o Ministro Paulo Portas dizer que, afinal, a
remodelação não era para ser levada assim tão a sério e que Vítor Gaspar até era um amigo do CDS e não
estava cá para ser criticado.
Ouvimos agora a Sr.ª Deputada dizer que, afinal, é criticável a decisão que o Eurogrupo tomou sobre o
Chipre…
Protestos do Deputado do CDS-PP Nuno Magalhães.
… e confirmou, aliás, até desmentindo o que o Ministro Vítor Gaspar disse à Assembleia da República, que
a decisão foi tomada por unanimidade dos 17 ministros das finanças.
Recordo-lhe, porque esteve na comissão na semana passada, que o Ministro Vítor Gaspar disse, em
resposta à pergunta feita, várias vezes, pelo Bloco de Esquerda, que se distanciava da medida de taxar os
depósitos no Chipre e que essa não era a preferência do Governo português, que essa não era a preferência
do Eurogrupo. Ora, a interpretação pública dessas palavras é a de que o Governo, afinal, tinha votado contra
esta medida, mas diz-nos a Sr.ª Deputada que assim não é, que o Governo votou a favor e que essa medida
foi tomada por unanimidade.
Então, esclareça-nos esta dúvida, que é a mais importante da sua declaração: se o Governo, através do
Ministro Vítor Gaspar, votou a favor e se o CDS critica a proposta, então, está o CDS a criticar o Ministro Vítor
Gaspar, ou não?
Sr. Deputado Artur Rego, bem pode abanar as mãos como quiser, mas está, ou não, a dizer adeus a Vítor
Gaspar e a desmentir Paulo Portas? Esta é a pergunta da tarde.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Muito bem!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — A insanidade da medida é clara aos olhos de todos. Não é preciso
perceber qualquer coisa de economia para compreender que esta medida é um descalabro e não é preciso ter
dois palmos de testa para perceber que, politicamente, esta medida é um ataque à periferia.
Ora, se todos percebemos isso, mas o Governo insiste em estar ao lado da Alemanha contra a periferia
onde está Portugal, essa é uma posição criticável. Porém, não percebemos que se sustente o Governo que
toma estas medidas, que apoia estas decisões contra Portugal e depois se diga, afinal, que se quer estar com
os pés em dois carrinhos: de um lado contra o Ministro Vítor Gaspar, do outro lado contra o Governo; de um
lado contra esta medida em particular, do outro lado a favor do Governo que tem defendido todas estas
políticas a nível europeu.