30 DE MARÇO DE 2013
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O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Agradeço que conclua, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Concluirei, Sr. Presidente.
Mantém rendas garantidas que são sufocantes para toda a estrutura social e económica do País. Mantém a
ficção de que há um défice tarifário que existe por causa do processo de privatização e, quem diria, as
privatizações não libertam a economia nem reduzem custos de produção. Pelo contrário, colocam os sectores
estratégicos para o futuro coletivo na mão de privados, garantindo rendas eternas que vão espoliando famílias
e empresas.
Para quem tem avaliado o desempenho do Governo e o desempenho no Memorando, com 70% das
reformas estruturais já implementadas por este Governo, Sr. Selassie, estamos conversados sobre reformas
estruturais!
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno
Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Ana Drago, a intervenção que trouxe a esta
sessão plenária é credora de uma importância extraordinariamente evidente nos nossos dias no que se refere
a uma situação que é o reflexo das opções de fundo que têm sido tomadas na política económica, desde logo
e em particular, na política energética.
De um modo geral, temos sido confrontados com uma política de preços da energia — e não falamos
apenas da energia elétrica, mas é um exemplo flagrante — altamente penalizadora para as nossas
populações, para as nossas empresas, para a nossa economia. Uma política de verdadeira drenagem dos
recursos nacionais, fazendo pagar com a nossa própria economia e o nosso próprio potencial produtivo a
fatura da dependência energética em que os sucessivos governos foram deixando o País.
É preciso sublinhar que, enquanto tudo isso acontecia, tivemos milhões e milhões de euros que foram
sendo transferidos e atribuídos pelos governantes, com dinheiro dos contribuintes, a estes grupos económicos
do sector e, enquanto isso, fomos ouvindo sempre a «canção do bandido» da liberalização, da concorrência,
do mercado, do mercado ibérico designadamente, e o resultado é sempre o mesmo: a escalada dos preços da
energia para níveis absolutamente incomportáveis, numa situação que é nada menos que escandalosa.
Pagam os contribuintes, pagam as populações, pagam as empresas, principalmente os nossos sectores
produtivos, uma fatura insuportável para a nossa economia e para a própria vida das pessoas, confrontadas
com situações de autêntico desespero.
Por exemplo, na gama de consumos entre 500 a 2000 MW/hora por ano, a eletricidade que se paga por cá
é mais cara do que em países como a Bélgica, a Áustria, a França, o Luxemburgo, a Finlândia, o que é uma
coisa relativamente difícil de entender tendo em conta o poder de compra do nosso país e desses países
europeus, que nem se compara.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Agradeço que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Vou concluir, Sr. Presidente, acrescentando que para o gás natural as
comparações são ainda mais adversas. Ora, isto serve para pagar um lucro, em 2012, perante esta crise
económica que se conhece, de 1028,4 milhões de euros à EDP, com margens brutas de perto de 5400
milhões de euros.
Assim, a questão que colocamos tem a ver com a quadratura do círculo, que é verdadeiramente
impossível. Aliás, a liberalização de monopólios naturais, neste contexto ou em qualquer outro, só podia
resultar numa situação como esta.
Portanto, Sr.ª Deputada Ana Drago, a questão que deixamos é como é que é possível essa tal proeza do
gelo quente, que é uma liberalização regulada e altamente lucrativa em que o País paga uma fatura
insuportável como esta que está a ser paga?