30 DE MARÇO DE 2013
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uma história que correu mal, é a própria história da organização política, com os setores estratégicos que
existem em Portugal há muitos anos.
A história das privatizações em Portugal é este processo; é o processo de garantia de rendas privadas
para, como dizia o jurista da DECO, «dourar a pílula» para os compradores, e penalizam sempre, sempre,
sempre, consumidores e economia. É exatamente isto que acaba de acontecer com a privatização da ANA,
esse famoso contrato que, tantos meses passados, esta Assembleia ainda não conhece.
O que acontece com o facto de assegurar rendas absolutamente abusivas a setores tão determinantes
traduz-se, hoje, na existência de situações inexplicáveis de famílias de classe média/baixa com problemas
gravíssimos para conseguirem pagar a sua fatura de eletricidade, e ouvindo as empresas, os pequenos e
médios empresários, sabemos que eles têm duas ou três reivindicações essenciais: obviamente a procura
interna, mas também a questão do financiamento e a da energia.
Portanto, aquilo que foi garantido aos acionistas da EDP, ao Dr. António Mexia e ao Dr. Eduardo Catroga
foi cobrado às famílias e à economia. Assim, esta é a história de uma privatização que não permitiu libertar
economia alguma, castigou, e é sempre assim. E retirou ao Estado a capacidade de influenciar um setor que
é, hoje, determinante, na recuperação económica.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Peço-lhe que termine, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Termino, Sr. Presidente, dizendo que o Partido Socialista tem de repensar a sua
política sobre privatizações, porque estas histórias mostram como as privatizações só prejudicam o interesse
público.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — E esse é o debate que temos, obviamente, de começar a fazer.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Hélder
Amaral.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Ana Drago, sei bem que a partir de
ontem se inaugurou no País um debate feito com meias verdades, mas espero que V. Ex.ª fuja a essa
tentação das meias verdades.
Se é um facto que o Bloco de Esquerda está contra qualquer privatização, mesmo as que corram
possivelmente bem para o interesse público e, portanto, não adianta essa discussão sobre privatizações
porque nunca nos vamos entender; se é verdade que o Bloco de Esquerda abomina tudo o que seja lucros,
porque é uma palavra que causa desconforto e incómodo à ideologia do Bloco de Esquerda — sobre essa
matéria, estamos entendidos —, há algumas partes que o Bloco de Esquerda faz bem em trazer ao debate e
que é, no fundo, aquilo que interessa aos portugueses, isto é, o que é que pagamos e porquê na eletricidade e
como é que resolvemos este problema.
V. Ex.ª disse, e bem, que há, no Memorando, uma obrigação de aumentar os impostos sobre a eletricidade
e sobre a energia. E disse até que o Governo poderia ter optado pela taxa mínima mas optou pela taxa
máxima. Só não disse a outra parte: é que o Governo fez essa opção para criar uma tarifa social que isentou
700 000 famílias do aumento da eletricidade.
Vozes do CDS-PP: — Bem lembrado!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Portanto, se o Bloco de Esquerda quisesse ser minimamente sério diria
que o Governo, cumprindo uma obrigação do Memorando da troica, deixada por uma necessidade— que o
Bloco também não reconhece, mas, obviamente, quanto a isso nada pode fazer-se —, optou por pôr quem
pode pagar a pagar para proteger aqueles que não têm tantas condições para pagar.