18 DE ABRIL DE 2013
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A Sr.ª Presidente: — O Sr. Deputado Duarte Pacheco informou a Mesa que responderá em conjunto,
primeiro, a duas perguntas e, depois, a três.
Sendo assim, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Jesus Marques.
O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Sr.ª Presidente Sr. Deputado Duarte Pacheco, a intervenção que fez,
um pouco na linha de toda a dramatização que o Governo desenvolveu na semana transata relativamente ao
chumbo de algumas das medidas do Orçamento, traduz uma posição política da maioria e, em particular, do
Governo de dramatização, como se o Tribunal Constitucional tivesse provocado aqui o quebrar de alguma
coisa que ia correndo muito bem no País, que era a vossa execução orçamental, a vossa política orçamental
ou a vossa política económica, como se o Tribunal Constitucional tivesse assumido aqui uma lógica de força
de bloqueio a uma política que corria muito bem.
Acontece que a política não corria muito bem e o Tribunal Constitucional limitou-se a fazer respeitar a
Constituição da República Portuguesa. Os senhores insistiram, teimosamente e de forma incompetente, em
medidas que não respeitavam a Constituição. Assim, é apenas à maioria, é apenas ao Governo do PSD/CDS
que pode ser assacada a responsabilidade do chumbo do corte, nomeadamente, dos subsídios de férias de
funcionários públicos e de pensionistas, porque o corte dos mesmos já tinha sido chumbado no ano anterior.
Mas não é como se isto tivesse posto em causa uma política que corria muito bem. É que corria mesmo
muito mal! O desemprego não parava, e não para, de aumentar; a recessão foi a pior de sempre; o défice
também não reduz significativamente, ou não reduz mesmo de todo se considerarmos as medidas
inconstitucionais; e a dívida pública, essa, teve um aumento que bateu todos os recordes. Sabe, Sr. Deputado,
quanto aumentou a dívida pública, no ano de 2012, entre as vossas estimativas iniciais e o valor final?
Aumentou 30 000 milhões de euros! É o efeito da recessão, é o efeito de bola de neve, é o efeito de deflação
da dívida a tornar impossível a sustentabilidade da dívida com a vossa política. E temos ainda a desagregação
social, a situação social gravíssima de tantos portugueses, cerca de meio milhão, que estão desempregados,
sem qualquer apoio e sem qualquer subsídio.
O Sr. Deputado enunciou algumas hipóteses, mas, dir-lhe-ia, tentou responder com uma espécie de
caminho de via única. Acontece que a vossa via única só tem dado maus resultados para o País. O austero
Gaspar e o discípulo Passos Coelho (o discípulo desta austeridade de Gaspar) não nos têm levado a bom
caminho. Era mesmo preciso parar. Como dizia Manuela Ferreira Leite, que certamente não vai acusar de
estar numa lógica de estratégia partidária a partir da oposição (não é certamente o caso), era melhor não
terem feito nada e deixarem chegar algum dinheiro à economia. Não tenho a certeza que isso sequer
implicasse algum aumento do défice. Como sabe, por via dos estabilizadores, por via do impacto económico,
até podíamos ter a surpresa de o défice não aumentar por essa via, e certamente a situação social e
económica ficaria melhor.
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Mas não! Os senhores, cada vez que erram, cada vez que são
incompetentes, cada vez que falham o défice, apenas aproveitam para carregar mais austeridade sobre os
portugueses.
Tinham outras soluções. Tinham a solução de negociar mais, de negociar com mais força na Europa, de
pedir outros juros, como teve agora Chipre, de pedir o reembolso dos lucros do Banco Central Europeu,
invocando a igualdade de tratamento, e de pedir a extensão de maturidades, como obteve a Grécia, que não
foi aquilo que tivemos, pois só o conseguimos depois de a Irlanda o ter pedido. E tinham a hipótese de agir
sobre a economia, aqui, em Portugal, e de lutar para que a Europa também aja sobre a economia.
Isto é, soluções europeias, soluções de política económica nacional, como nós temos proposto e os
senhores, sistematicamente — e, desde logo, o Primeiro-Ministro —, têm apoucado.
Os senhores falam de consenso, mas sistematicamente ignoram as propostas do Partido Socialista e
querem apenas que o PS vá ao encontro do vosso caminho. Acontece que esse caminho tem deixado o País
cada vez prior.
Há, sim, um novo consenso nacional contra esta lógica de mais austeridade.