18 DE ABRIL DE 2013
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financiamento, as empresas terão de endividar-se novamente só para pagarem os encargos decorrentes da
perda neste jogo financeiro com a banca.
Por agora, as perdas são maioritariamente potenciais, mas tornam-se reais se os bancos decidirem
denunciar os contratos, obrigando as empresas a liquidá-los, dir-se-ia «a sangue frio». De resto, a imprensa
indica que várias instituições financeiras têm vindo a exigir essa mesma denúncia dos contratos, provocando
assim um colapso financeiro de proporções e consequências sem paralelo.
De qualquer forma, já se estão a registar, neste momento, perdas efetivas com estes instrumentos, por via
dos encargos trimestrais com juros. Só para este ano, está previsto um reembolso de mais de 160 milhões de
euros relativos a contratos de swap.
A Metropolitano de Lisboa tem em mãos uma dívida total de 4117 milhões de euros, de acordo com dados
da Direção-Geral do Tesouro e Finanças, mas assinou contratos de swap no valor de 5551 milhões de euros,
muito mais do que a totalidade da dívida.
No primeiro semestre de 2012, a empresa gastou 34 milhões em salários e 297 milhões em juros e perdas
swap para a banca. Isto significa entregar à banca, só em 2012, mais dinheiro do que o montante pago aos
seus trabalhadores em 10 anos!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Uma vergonha!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — A comunicação social estima uma perda, com swap, de 1131,4 milhões na
Metropolitano de Lisboa, o que corresponde às receitas de 16 anos, e de 832,4 milhões na Metro do Porto,
equivalente a 142 anos de salários!
Perante tudo isto, há um silêncio do Governo e uma falta de transparência que só nos dá mais razões para
preocupação.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — O PCP apresentou requerimentos e perguntas ao Governo na Assembleia da
República, confrontando o Governo com este mesmo problema. Não foi esta semana, nem a semana
passada, foi a 29 de setembro de 2012, foi a 2 de novembro de 2012, foi a 14 de janeiro de 2013. O Governo
nunca respondeu. Nunca!
Suscitámos a questão em debates no Plenário e na Comissão Parlamentar. O Governo fez sempre de
conta que não ouvia.
Na semana passada, na reunião da Comissão de Economia e Obras Públicas, confrontámos o Secretário
de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações com esta matéria e na resposta que tivemos
fomos simplesmente remetidos para a Secretaria de Estado do Tesouro, que assumiu a responsabilidade
política pela condução deste processo.
Imediatamente, o PCP requereu a audição da Secretária de Estado do Tesouro na comissão parlamentar
e, esta manhã, o PSD e o CDS-PP impediram essa audição, votando contra o requerimento do PCP e
afirmando que o consideravam «extemporâneo».
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Dizem-nos que «está a decorrer uma auditoria aos financiamentos
contratados, nomeadamente no que se refere aos contratos de cobertura de risco». Mas, nesse caso, é
verdade ou não que essa auditoria foi determinada há dois anos? E, sendo assim, como é que só agora se
começou a tratar do assunto?
Mais: é ou não verdade que desde agosto do ano passado a gestão destes contratos está atribuída à
Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP), por decisão do Ministério das Finanças, aliás,
com acordos de representação entre as empresas e o IGCP para esse efeito? Então, nesse caso, o que é que
sucedeu até agora?!