I SÉRIE — NÚMERO 79
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abertura para as preocupações do CDS, aliás, recíproca e com resposta em idêntico tom, uma linha que, às
vezes, até a nós,…
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Que já viram tudo!…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — … que, enfim, não estamos propriamente envolvidos nesse diálogo,
nos faz corar de embaraço. Imagino até como se sentirá o PSD, que parece aqui, neste Hemiciclo, por vezes,
uma espécie de «pau-de-cabeleira» da política portuguesa,…
Risos do PCP.
… a assistir a esta conversa embevecida entre PS/CDS e CDS/PS, assim continuando para garantirem a
mesma política.
O Sr. Deputado falou das políticas económicas e da necessidade de mudarmos as políticas económicas.
Não foi bem assim, mas digo eu que há necessidade de mudarmos as políticas económicas.
Ora, hoje de manhã, na Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública, o PSD, o PS e o CDS
aprovaram, até com elogios do Partido Socialista, uma alteração à lei de enquadramento orçamental que
consuma as questões relativas ao Tratado Orçamental, que não é nem mais nem menos do que a confirmação
agravada de uma lógica da política europeia que desgraça o nosso País, porque é um garrote financeiro sobre
o desenvolvimento e sobre os serviços públicos que garantem os direitos dos portugueses.
Como é que se pode querer uma nova política económica, quando, ao mesmo tempo, se determina que o
Orçamento não pode ter mais dinheiro para o investimento, não pode ter mais dinheiro para os salários e para
as reformas, dinamizando a procura interna, não pode ter mais dinheiro para o crescimento económico e o
emprego, que todos os dias estão na boca do PS e do CDS e, agora, nas últimas semanas, também do PSD?!
Sr. Deputado, não se pode ter um discurso e, depois, concretizar uma prática completamente diferente.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Dei comigo, nos últimos dias, a lembrar-me tanto, tanto de uma
música do Fausto e do Viriato Cruz, que é o Namoro e envolve muitas cartas, cartas para um lado, cartas para
o outro… O Benjamim, que é o herói da história, mandou uma carta — talvez ao PS!… —, «em papel
perfumado», pedindo uma resposta, só que o PS, na resposta a essa carta, disse que não.
Depois, a seguir, a música até diz: «Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete» — aqui, já podia ser o CDS,
que tem mandado muitos recados ao Partido Socialista —,…
Risos do PCP.
… mas, ao recado, também disse que não.
Queria, talvez, dar-lhe alguma tranquilidade, Sr. Deputado. Há uns tempos, alguém disse que «para dançar
o tango, são precisos dois». Nesta música, nesta magnífica música não se fala do tango, fala-se da rumba. A
rumba também não se dança a três, mas, com o caminho que leva o Partido Socialista, neste momento, penso
que já está a começar a dança a três, para manter a mesma política e continuar a desgraçar o País.
É isso que não queremos, Sr. Deputado João Almeida! Não queremos continuar pelo mesmo caminho e
quem hesita em exigir a demissão do Governo,…
O Sr. Presidente (António Filipe): — Queira concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — … a convocação de eleições e a mudança de política quer continuar o
mesmo caminho.
Termino, Sr. Presidente, pedindo desculpa ao Fausto e ao Viriato Cruz por um uso tão inapropriado da
magnífica música que produziram para nós.