I SÉRIE — NÚMERO 79
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tínhamos, ainda que pequeno, um certo crescimento económico. Era nessa altura que devíamos ter feito
esses cortes de despesa. Não os fizemos, temos de fazê-los na fase mais difícil do ciclo, e isso obriga-nos a
atender especialmente ao efeito recessivo que alguns desses cortes podem ter e, portanto, a ponderar muito
bem as soluções que iremos apresentar.
Em ambos os casos, ao nível interno e ao nível externo, se temos de fazer esta reflexão e se temos de
apresentar estas alternativas, sabemos que há uma condição que é mais importante que todas as outras, que
é a capacidade de construirmos consensos, a capacidade de mantermos um clima de concertação política e
de concertação social.
É verdade que sempre temos dito que esse é o maior ativo de Portugal nas suas negociações com os
nossos parceiros internacionais. Mas, mais do que um ativo de Portugal nas negociações com os parceiros
internacionais, esta é também a maior garantia dos portugueses, porque os portugueses sabem que, quanto
maior for o consenso na aplicação de novas medidas, mais protegidos os portugueses estão, porque melhores
serão essas soluções — serão mais debatidas, serão mais apoiadas e assim melhor defenderão os seus
interesses. É essa capacidade que temos de ter para construir essas soluções. E, num momento como este,
ninguém se pode demitir da responsabilidade de participar neste processo.
Foi essa a atitude que PSD e CDS tiveram num momento difícil quando Portugal teve de pedir ajuda
externa. O CDS, durante vários PEC, votou contra medidas que considerava erradas, medidas de cortes
cegos da despesa e medidas de aumento cego da carga fiscal, mas fomos capazes de perceber que, no
momento em que tínhamos de pedir ajuda externa, não estávamos mais em condições de poder dizer que
rejeitávamos estas medidas, pela responsabilidade que tínhamos de saber que, naquele momento, não havia
outra alternativa. Pois é exatamente essa responsabilidade que, neste momento, temos todo o direito de pedir
que tenha quem agora está do outro lado, como nós tivemos quando estávamos nessa circunstância.
É este clima que faz falta a Portugal e é este clima que temos de saber construir.
Temos também de saber que, muito mais do que defender os interesses de um Governo, está em causa
defender os interesses de Portugal e dos portugueses. Quanto maior for o consenso, melhor e mais estão
protegidos os portugueses, sabemos que, se queremos negociar com os nossos parceiros, teremos tanta mais
força quanto aquela que for a força do nosso consenso.
Portanto, quem não participar para o consenso sabe também que está a enfraquecer a posição de Portugal
na negociação. Se nós não queremos estas medidas e queremos outras, então, temos de ter força para as
negociar e, se queremos ter força para as negociar, somos muito mais fortes se chegarmos e dissermos que,
com estas medidas, temos consenso e, com as que nos querem impor, não temos esse consenso.
É essa capacidade também de unir os portugueses, de unir a concertação social e política que é essencial
para que Portugal tenha mais força junto dos parceiros internacionais e para que não perca essa força. Se
perder essa força, não é o Governo que perde, quem perde é Portugal e os portugueses.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Sr. Deputado João Pinho de Almeida, inscreveram-se, para pedir
esclarecimentos, os Srs. Deputados Cecília Honório, João Galamba, Bernardino Soares, Afonso Oliveira e
Heloísa Apolónia.
Depois, dir-me-á como pretende responder.
Para pedir esclarecimentos, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília Honório.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado João Almeida, quero cumprimentá-lo pela sua
intervenção e dizer-lhe que sobram muitas interrogações das palavras que aqui deixou.
Em primeiro lugar, o que é que significa exatamente para o CDS rever políticas, criar consensos? Significa
que o CDS está comprometido com uma inversão da austeridade que está a conduzir o País a um abismo sem
saída? Sobretudo, Sr. Deputado, o que é que significa este namoro, tão insistente, com o PS que aqui fizeram
durante toda a tarde? O que é que o CDS quer exatamente do PS? Estão, porventura, a sonhar com um
Governo de salvação nacional? É um acordo de incidência parlamentar? Explique lá o que é que o CDS quer
do PS!