I SÉRIE — NÚMERO 82
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O Sr. Marcos Perestrello (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, ao longo das últimas décadas,
sucessivos governos foram procurando criar condições e foram conseguindo manter em laboração os
Estaleiros Navais de Viana do Castelo, ajudando-os a conseguir novos contratos para a construção de novos
navios. E a verdade é que, ao longo das últimas décadas, os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, num
quadro de grande dificuldade, foram capazes de manter elevados níveis de laboração com elevados padrões
de qualidade.
Com a entrada em funções deste Governo, o primeiro ato de gestão que o Ministério da Defesa entendeu
fazer foi deitar para o lixo um plano de reestruturação que estava em curso e que tinha, designadamente,
resposta para as tais ditas ajudas de Estado que agora a União Europeia vem considerar inadequadas.
Esse plano de reestruturação tinha uma resposta para essas ajudas de Estado, para os empréstimos que o
Estado foi fazendo aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo de forma a viabilizar a sua atividade. O que
acontece nesta altura é que o Governo, de uma forma leviana, de uma forma irresponsável, de uma forma
incompetente, depois de deitar para o lixo esse plano de reestruturação, foi incapaz de apresentar um plano
alternativo estudado, trabalhado, competente e capaz de resolver o problema dos Estaleiros.
Aplausos do PS.
Essa é a verdade hoje, a verdade para a qual os Srs. Deputados da maioria foram inúmeras vezes
alertados. Os Srs. Deputados da maioria são, pois, hoje, corresponsáveis pelo que está a acontecer com os
Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
E não podem fazer de conta, com intervenções vindas de outro mundo, como aquela que o Sr. Deputado
Abel Baptista aqui fez há pouco, que o Governo continua empenhado em encontrar uma solução para os
Estaleiros. Não, Srs. Deputados. A Comissão Europeia, pelo contrário, parece que está a implorar de joelhos
ao Governo da República que lhe apresente uma solução, que justifique esse financiamento que foi fazendo
aos Estaleiros, que apresente um plano de reestruturação. Mas, Srs. Deputados, o que acontece neste
momento é que o Governo, tal como desistiu do País, tal como desistiu de Viana do Castelo, desistiu também
dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e nós não podemos aceitar isso.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Honório Novo.
O Sr. Honório Novo (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Marcos Perestrello, penso que, de facto, vale
a pena olhar para esta última década e perceber que o senhor não tem toda a razão quando enaltece a
qualidade da gestão empresarial da empresa nos últimos anos.
Se o senhor quiser enaltecer o esforço dedicado dos trabalhadores, se o senhor quiser sublinhar a
determinação com que os trabalhadores e os seus órgãos representativos, durante muitos anos, abdicaram de
salários e de aumentos salariais, de aumentos de direitos e regalias, em nome da estabilidade da empresa, o
senhor tem razão. Mas, simultaneamente, deve recordar que estes mesmos trabalhadores, durante muitos
anos, acusaram as administrações nomeadas por diversos governos, incluindo o seu, de gerirem os Estaleiros
à distância de 400 km.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. Honório Novo (PCP): — Vinham à segunda-feira e iam embora à quarta-feira. E não há hoje, no
mundo competitivo, nenhuma empresa que resista à gestão e a administrações com esta atitude de desleixo,
de desprezo e de desapego perante uma empresa que precisava de empenho e de capacidade para contratar,
para discutir e para ganhar as melhores condições.
Sr. Deputado, gostava que tivesse respondido a uma pergunta que fiz da tribuna e que é um desafio que
lanço a todas as bancadas, no sentido de que apoiem a proposta que o PCP já apresentou em sede
parlamentar há uma semana para que, finalmente, aquilo que estava previsto desde 2007, que era uma