I SÉRIE — NÚMERO 82
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Quem responsabilizamos é o Governo, é o Orçamento do Estado por falta de clareza nas situações. Aliás,
o documento que o Sr. Deputado referiu, também o Bloco de Esquerda já o pediu ao Governo da República.
Portanto, nós responsabilizamos quem governa.
Como dizia, há muito tempo, um Sr. Deputado do CDS, a responsabilidade-primeira do País e do Governo,
é de quem governa, é de quem toma as medidas. Quem decidiu os cortes foi o Governo do País e quem
decidiu excecionar, desses cortes, a TAP foi o Governo do País.
Ora, por que é que temos de dar um tratamento diferente aos pilotos da SATA? É essa igualdade que os
pilotos estão hoje a reclamar, independentemente do impacto da greve — e não vou comentar as
considerações que o Sr. Deputado fez relativamente ao impacto da greve. Normalmente, as greves têm
impacto e o impacto não é diferente num hospital dos Açores ou num hospital do distrito de Setúbal ou de
Lisboa, nem é diferente uma greve da TAP ou uma greve da SATA.
Tratamos de direitos e são os direitos que o Bloco de Esquerda aqui jura salvaguardar, jura solidarizar-se e
jura, também, que, no próximo Orçamento retificativo, vai apresentar propostas claras para que o Governo
inverta a sua marcha dos cortes, cortes que se destinam sempre aos mesmos do costume.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra ao Sr. Deputado Jorge
Machado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Mariana Aiveca, além de saudar a sua
intervenção, queria dizer que, efetivamente, o caminho que este Governo trilhou no nosso País é um caminho
de ataque sistemático aos trabalhadores — aos trabalhadores da Administração Pública, aos trabalhadores do
setor privado.
Todos os trabalhadores são vítimas deste Governo, que lesa os interesses nacionais. Aliás, fica claro que
não há divisão entre trabalhadores do setor privado e do setor público; o que há é um ataque sem precedentes
aos direitos de quem trabalha, para privilegiar os grandes grupos económicos, os detentores do capital, os
«tubarões» do nosso País, que continuam a engordar à custa da exploração de quem trabalha.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Os dois exemplos aqui manifestados são bem elucidativos do ataque que
é levado a cabo contra os trabalhadores.
O primeiro exemplo é o que se prende com a greve da SATA, uma greve que queremos saudar, porque se
trata de uma greve com 100% de adesão e que visa, única e exclusivamente, aplicar o que foi acordado na
TAP aos trabalhadores da SATA, o que é perfeitamente normal e legítimo. E queremos aqui lançar o dedo
acusatório ao poder político, quer ao Governo da República quer ao Governo Regional, em particular ao
Governo regional, porque podia e devia ter evitado esta greve, aplicando aos trabalhadores da SATA o que foi
acordado com os trabalhadores da TAP. Se o tivesse feito, não teríamos tido este problema e, nessa medida,
evitavam-se os prejuízos que são provocados a toda a gente, nomeadamente aos trabalhadores que perdem
os dias de salário.
O segundo exemplo é o que diz respeito ao subsídio de férias. Queremos dizer que esta proposta de lei,
que entrou hoje mesmo, é uma verdadeira manobra de diversão por parte do Governo, é uma manobra
dilatória, é uma operação em curso que é uma vergonha! Efetivamente, o Tribunal Constitucional declarou
inconstitucional o roubo do subsídio de férias e o Governo, em vez de pagar o que devia pagar aos
trabalhadores já em junho, como é normal, não o faz, diz que paga a uns em novembro e a outros em junho, o
que é uma clara vigarice.
É um Governo fora de lei, é um Governo que, efetivamente, não cumpre as decisões do Tribunal
Constitucional. O Governo pode, deve e tinha de cumprir, pagando o que devia pagar, em junho, a todos os
trabalhadores da Administração Pública e a todos os reformados — o subsídio de férias.
O dinheiro do subsídio de férias não é do Governo. Paguem o que devem!», é a expressão que se deve
colocar em cima da mesa.