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26 DE ABRIL DE 2013

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Àqueles que passam a vida a dizer que quem tem dinheiro é quem manda — seja esse «quem» a

Alemanha, a troica, ou os banqueiros que acham, iludidos, que aguentamos tudo —, é preciso dizer que a

canção de Abril é mais sábia e ditou, há muito tempo, que «o povo é quem mais ordena»!

Este País tem Abril na sua raiz. Abril é do povo e o povo ordenará que Abril vencerá!

Viva o 25 de Abril!

Aplausos de Os Verdes, do PCP e do BE.

A Sr.ª Presidente da Assembleia da República: — Em representação do Grupo Parlamentar do Bloco de

Esquerda, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente da República, Sr.ª Presidente da Assembleia da República,

Srs. Presidentes do Tribunal Constitucional e do Supremo Tribunal de Justiça, Sr. Primeiro-Ministro e Srs.

Membros do Governo, Sr.as

e Srs. Deputados, Sr.as

e Srs. Convidados:

Tenho a idade do 25 de Abril. Comecei a dar os primeiros passos, literalmente, com aquele Abril que nos

fez esquecer esse longo mês de março. Em minha casa, como em quase todas, discutia-se política.

Foram tempos de aprendizagem. Muito, quase tudo, só me fui apercebendo mais tarde. Foram os dias em

que aprendemos a força de ter força, em ter orgulho no que é nosso e no que podemos construir como

coletivo. Aprendemos que um país pobre, e fechado sobre si próprio, pode quebrar o atavismo e encontrar-se

com o seu futuro.

Foi essa crença em Portugal e nos portugueses, a ideia de que o destino do País não estava confinado à

mediocridade pobre mas remediada, que nos trouxe a essa clara madrugada. Dizia Salazar, em 1962,

resumindo quatro décadas de isolacionismo, que «um povo que tenha a coragem de ser pobre é um povo

invencível». Foi este o fardo cultural quebrado por Abril.

A revolução foi feita por quem tem a certeza de que o empobrecimento não é o nosso fado natural, a

democracia cresceu na convicção de que esse País fechado sobre si próprio «foi um sonho mau que já

passou, um mau bocado que acabou».

Os cravos vieram para rebentar com o provincianismo atávico, devolver a esperança e renascer o orgulho,

substituir a ideologia da pobreza pela coragem de fazer melhor e a esperança de almejar mais além.

A modernidade política e cultural, inauguradas com a revolução, trouxeram-nos a ambição de ser europeus

de pleno direito, a coragem de nos inspirarmos nos melhores exemplos e reclamá-los como nossos, a

universalidade nos cuidados de saúde, a proteção na velhice, a equidade de oportunidades do sistema

educativo. Abril foi ser mais alto.

Vozes do BE: — Muito bem!

A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Foi assim que eu, que não vivi a revolução, sou filha dela. Eu, como

tantas e tantos «filhos de Abril», estudei em escolas e universidades públicas, dei à luz em hospitais do

Serviço Nacional de Saúde (SNS) e foi a segurança social que me permitiu ter licença de maternidade.

Não vivi a revolução, mas não seria a mesma sem a janela que ela nos abriu. Celebrar Abril é também

lembrar o que ele foi para cada um de nós, no que nos transformou e no que nos abriu de possibilidades.

A democracia mobilizou um País, uniu-o, nas suas diferenças, em torno de dois ou três consensos que

perduraram quatro décadas. Portugal não pode viver isolado, e abrimo-nos ao mundo; Portugal não está

condenado ao empobrecimento, e construímos um Estado social. Temos orgulho nisso.

O consenso em torno do Estado social inscreve-se nas nossas vidas, está no quotidiano de todos quantos

crescem e cresceram na escola pública, tornou possível que tantas e tantas famílias portuguesas quebrassem

o ciclo da pobreza e do analfabetismo e que hoje os pais sejam orgulhosos do tão mais que as suas filhas e

filhos souberam estudar, puderam aprender.

O Estado social está inscrito no Serviço Nacional de Saúde, ao qual nos entregamos nos momentos mais

frágeis e mais difíceis. O SNS trouxe-nos para a modernidade de nascer em segurança, de transformar em

doença ligeira o que era causa de morte.