I SÉRIE — NÚMERO 84
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Não acreditávamos na mudança de políticas por parte do Governo mas, face à insistência nas
proclamações, a dúvida que deixámos, na semana passada, foi a de saber se desta vez era a sério, se o
Ministro Vítor Gaspar ia deixar.
A resposta está dada. Tínhamos razão. As propostas da economia foram completamente eclipsadas pelo
Documento de Estratégia Orçamental. O Governo não muda de políticas. O Governo não muda de receita, e a
mesma receita vai conduzir aos mesmos resultados. Por isso, é tempo de uma nova política e de um novo
rumo para Portugal.
Aplausos do PS.
Há uma urgência: estancar a espiral recessiva que está a destruir empresas e empregos e está a dificultar
ainda mais a consolidação das contas públicas.
Para o efeito, importa renegociar o ritmo da consolidação orçamental. A consolidação orçamental não pode
traduzir-se em destruição de empresas viáveis nem pôr em causa o potencial de crescimento e de emprego. A
consolidação é necessária mas não pode significar um retrocesso no desenvolvimento.
Importa também renegociar as taxas de juros do ajustamento e assegurar a devolução dos lucros do BCE
obtidos na negociação da dívida pública portuguesa e ainda melhorar as condições de financiamento das
empresas, evitando a falência de empresas viáveis, transformando dívidas ao fisco e à segurança social em
participações do Estado, equacionando a alteração das exigências de capital da banca, aproximando-as das
existentes nos principais países europeus.
O Sr. Carlos Zorrinho (PS): — Muito bem!
O Sr. Rui Paulo Figueiredo (PS): — Face ao reconhecimento dos problemas existentes em termos de
financiamento do setor produtivo seria de equacionar essa alteração, contribuindo assim para fortalecer a
capacidade dos bancos concederem crédito à economia. Cada ponto percentual de redução permitiria libertar
4500 milhões de euros de capital.
Aplausos do PS.
Importa também suster a perda de poder de compra através do aumento do salário mínimo e das pensões
mais baixas e da estabilização de um quadro fiscal, tudo através da concertação social, da rejeição de cortes
adicionais em pensões mais baixas, de um programa de reemprego de população desempregada em
atividades que correspondem a necessidades locais, através de protocolos com instituições particulares de
solidariedade social (IPSS) e autarquias, com financiamento comunitário, da prorrogação do subsídio social de
desemprego em mais seis meses.
O Sr. Carlos Zorrinho (PS): — Muito bem!
O Sr. Rui Paulo Figueiredo (PS): — Queremos ainda estancar a perda de emprego, parando a emigração
jovem com um programa de recrutamento e formação, ao abrigo do programa Iniciativa Jovem, recentemente
aprovado na Europa, reduzindo o IVA na restauração e implementando um programa de reabilitação urbana
com enfoque na eficiência energética.
Aplausos do PS.
Mas não basta estancar a espiral recessiva, ainda que esse objetivo seja essencial. É necessário dar um
novo rumo a Portugal, um rumo assente num novo desenvolvimento, num novo compromisso com o nosso
contrato social, numa nova Europa e com uma agenda para o crescimento e o emprego.
Novo desenvolvimento. Portugal, se quiser ter futuro na zona euro, tem de virar a página. De uma vez por
todas, a competitividade do nosso País não pode estar baseada em baixos salários mas, sim, no valor
acrescentado dos seus produtos e serviços e na qualificação dos portugueses.