I SÉRIE — NÚMERO 90
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descredibilizado e desmoralizado, por todos apontado como um dos casos problemáticos da Europa. Hoje em
dia, Portugal é visto como um País fiável e confiável, capaz de honrar os seus compromissos.
Há dois anos, Portugal era incapaz de se financiar com normalidade. Hoje em dia, o Estado português
recomeçou lentamente a financiar-se nos mercados. É verdade que é um processo difícil, moroso e lento, mas
é um processo em que já demos os primeiros passos e temos todas as razões para acreditar que teremos
sucesso.
Este facto tem um impacto real, mas muitas vezes escamoteado, na vida de todos os portugueses. O
financiamento normal do Estado português é o único caminho para um financiamento normal do sistema
bancário e da economia e das famílias. Só assim poderemos ter investimento privado e, consequentemente,
crescimento económico e geração de emprego. São estes os verdadeiros objetivos, são estes os objetivos
finais.
Dirão alguns que o regresso aos mercados, por si só, não é garantia suficiente do surgimento do
investimento privado. Naturalmente que não. Mas é indispensável para podermos voltar a ter uma vida
económica normal. É uma ilusão pensar que poderemos ter crescimento económico e criação de emprego
sem esta condição. Aliás, é sempre bom não esquecermos que foi a perda desta normalidade de
financiamento, da capacidade de financiamento em mercado que originou parte muito substancial das
dificuldades em que agora, infelizmente, nos encontramos.
Sendo a situação económica portuguesa muitíssimo preocupante, a situação económica europeia, por sua
vez, também mudou nestes dois anos. No 1.º trimestre deste ano, as economias da zona euro contraíram 1%
de forma homóloga e 0,2% em relação ao trimestre anterior. Países anteriormente vistos como
economicamente fortes apresentam agora sinais de recessão: é o caso da Holanda, por exemplo.
O grau de preocupação com que olhamos para a situação europeia aumentou de forma muito substancial.
De facto, a chamada «crise das dívidas soberanas» tem vindo a demonstrar muitas fragilidades no processo
europeu.
Primeiro, a quebra de solidariedade motivada pela divisão simplista e demagógica da zona euro em dois
blocos diferente: o centro e a periferia, ou o norte e o sul. Os projetos europeus e da moeda única só
sobreviverão se a Europa for capaz de se manter unida e passar por cima destas divisões erradas e erróneas.
Em segundo lugar, a dificuldade acrescida que representa as dificuldades sentidas por muitos dos nossos
parceiros europeus também não pode ser escamoteada. O crescimento das exportações é um fator essencial
no nosso processo de ajustamento e depende não só de nós, como é óbvio, mas também da procura externa.
Por último, a coexistência de programas de assistência como aquele que temos em Portugal com
experiências como a que se vive no Chipre é preocupante não só pelo facto de eles serem substancialmente
divergentes, como também pela dúvida criada acerca da garantia dos depósitos, até agora para todos
indiscutível e, do nosso ponto de vista, absolutamente essencial.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Nestes dois anos, é
manifesto que nem tudo correu bem. É óbvio que não. Pelo contrário, tivemos e ainda temos um processo
cheio de dificuldades, que exigiu, e exige, de todos os portugueses sacrifícios, responsabilidade e enorme
sentido patriótico.
A Sr.ª Teresa Leal Coelho (PSD): — Bem lembrado!
A Sr.ª Cecília Meireles (CDS-PP): — Os portugueses estiveram à altura da situação e deram provas de
uma maturidade absolutamente notável.
É preciso agora que os partidos políticos sejam capazes de encontrar o mesmo sentido de
responsabilidade e até mesmo de patriotismo a encontrar soluções, a procurar pontes e a construir consensos.
Portugal teve de pedir ajuda externa por causa de uma série de decisões erradas e de dificuldades muito
sérias de financiamento. Estas são as causas que estamos a corrigir. Mas não podemos escamotear o facto
de termos também problemas estruturais que temos de enfrentar. Temos de ser capazes de criar um sistema
fiscal mais competitivo, mais estável e mais fiável se queremos atrair investimento privado, quer externo quer