I SÉRIE — NÚMERO 93
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A Sr.ª Ana Drago (BE): — Esse milhão é nosso! É dos contribuintes, dos cidadãos, dos alunos, do Serviço
Nacional de Saúde! Esse prémio tem de ser imediatamente devolvido, nós é que somos os credores.
Termino, Sr. Presidente, dizendo que, dois anos e 5600 milhões de euros depois, o Ministro Vítor Gaspar,
para financiar as PME, foi pedir ajuda a um banco público alemão.
Sr.as
e Srs. Deputados: É tempo de prestar contas. Quando a banca intervencionada não foi solidária com a
economia, o Bloco de Esquerda quer saber o que se passou.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Tem de concluir, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Termino, Sr. Presidente.
Assim, o Bloco de Esquerda vai requerer a presença do Ministro das Finanças na Assembleia da República
para dar explicações. É preciso que o Sr. Ministro, não eleito pelo povo português, como fez questão de
sublinhar, saiba que esta política milionária para o setor bancário está claramente acima das nossas
possibilidades democráticas.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado João
Oliveira.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Ana Drago, antes de mais, e apesar de se
tratar de um pedido de esclarecimento à Sr.ª Deputada, permita-me que registe a falta de comparência das
restantes bancadas a este debate.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — Mas faz sentido! Faz sentido que não haja mais pedidos de esclarecimento
quando se trata de avaliar a natureza de classe das políticas do Governo e do pacto da troica, porque é disto
que estamos a tratar.
Aquilo que a Sr.ª Deputada acabou por dizer, na sua declaração política, apesar de não o ter assumido
desta forma, foi que, de facto, a política deste Governo e a política do pacto de agressão é uma política que
tem uma natureza de classe marcadíssima e claríssima: é uma política que prejudica uns, para não faltar aos
outros; é uma política que prejudica quem trabalha, para não faltar ao capital, para não deixar de satisfazer os
interesses do capital; é uma política que prejudica reformados, funcionários públicos, jovens, trabalhadores,
para não faltar aos grupos económicos, que acumulam lucros, e milhares de milhões de lucros, em tempos de
crise.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — A Sr.ª Deputada referiu, na sua intervenção, o exemplo da administradora do
BANIF Brasil, que, já depois de o Estado português, com o dinheiro dos impostos dos portugueses, ter dado
cobertura a um processo que significou um empréstimo de 14 vezes o valor comercial daquele Banco —
assumido com o dinheiro dos impostos de todos nós —, arrecadou, em salários e bónus, 1,1 milhões de euros
de lucros.
Mas este é apenas um dos exemplos da incoerência do discurso, em que se diz, aos trabalhadores, aos
reformados, ao povo português, que temos de fazer sacrifícios, que não se pode dar tudo a todos, como era,
até há bem pouco tempo, o discurso das bancadas da maioria, que temos de fazer sacrifícios e temos de
aceitar cortes em aspetos que considerávamos fundamentais nas nossas vidas, mas, ao mesmo tempo, se diz
ao capital, nomeadamente à banca e aos grupos financeiros, que, para eles, continua a haver mordomias,
continua a haver todas as benesses e benefícios do costume. E podíamos até dar outros exemplos, Sr.as
e
Srs. Deputados.