I SÉRIE — NÚMERO 93
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Mais: na semana em que se realizou um Conselho Europeu, na semana em que se discutiram e se
decidiram medidas sobre a evasão e fraude fiscais, não ouvi uma palavra do Sr. Deputado quanto a esta
matéria.
Ou seja, quando a Europa se une relativamente a matéria que é importante para todos nós, aquilo que os
senhores tanto reclamam, que é contrariar os bancos, contrariar a fuga aos impostos, contrariar a ilicitude, não
ouvi uma palavra sua relativamente a isso. O senhor só está preocupado com o seu cliché de 1996, com o seu
conservadorismo do passado, com as suas ideias ultrapassadas e com a incapacidade de evoluir.
Protestos do PCP.
Sr. Deputado Honório Novo, a questão que lhe deixo é muito simples: perante aquilo que advoga, perante
aquilo que parece querer, que é o fim da moeda única, qual é a sua alternativa se nós saíssemos da moeda
única?
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Está baralhado!
O Sr. António Rodrigues (PSD): — É a necessidade de desvalorizar uma moeda? É a necessidade de
ficarmos mais 20 ou 30% abaixo daquilo que é o padrão dos outros países europeus? É prejudicar as
exportações portuguesas? É voltarmos ao passado? É voltarmos a estar isolados em termos europeus? Qual
é a sua alternativa, Sr. Deputado? Isto porque nós que ouvimos reclamar as suas posições do passado, não
sabemos quais são as suas posições de futuro.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputado Honório Novo, faça favor.
O Sr. Honório Novo (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado António Rodrigues, confesso que em 1997
lutámos contra a entrada na moeda única, apresentámos uma série de razões e de consequências dessa
União Económica e Monetária. Infelizmente — e digo «infelizmente» por causa do País —, tínhamos razão.
Quinze anos depois, todas as previsões e prevenções estão hoje a ser concretizadas.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É verdade!
O Sr. Honório Novo (PCP): — E a diferença entre a nossa posição e a sua posição — aliás, não é isolada
— é esta: nós falávamos verdade e hoje temos razão; os senhores julgavam que falavam verdade e estavam a
enganar e a mentir aos portugueses, levando-os, num ato de pura opção política, através de uma operação
enorme de propaganda.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Mais uma vez!
O Sr. Honório Novo (PCP): — Uma enorme operação de propaganda que até passava por este
brilhantismo de que afinal, com a entrada da moeda única, se iria a Badajoz comprar caramelos com euros.
Era este o grande ato de propaganda que os senhores tinham para mostrar as vantagens da introdução da
moeda única!
Sr. Deputado António Rodrigues, ao que nós estamos a assistir com a moeda única e a troica é a um
processo continuado de tentativa de desvalorização fiscal do País, daquilo que se designa por «regresso da
competitividade» do País. E de duas, uma: ou se faz através do processo da troica por uma desvalorização
interna que significa cortes salariais, cortes nas pensões, cortes nas prestações sociais, um exército de
desempregados, a destruição de direitos e o senhor põe a economia a valer menos 30% e mais competitiva
30%…
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente Ferro Rodrigues.