I SÉRIE — NÚMERO 93
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O Sr. António Braga (PS): — Não é, não, Sr. Deputado. O sonho europeu é aquele que trouxe à Europa
um período não apenas de paz e de prosperidade mas também, como todos bem sabemos e testemunhámos,
permitiu atingir níveis muito relevantes de bem-estar em toda a União Europeia.
Protestos do PCP.
Evidentemente, o facto de vivermos hoje em crise, no caso concreto ao Grupo Parlamentar do Partido
Socialista, não nos leva à desistência do projeto europeu; bem pelo contrário, leva-nos, sim, no contexto da
própria União Europeia, a lutar para que a própria Europa tome medidas e, aí sim, acompanhamos o
diagnóstico que os Deputados do PCP fazem, bem como a generalidade da esquerda em Portugal, quanto à
necessidade de alterar mecanismos de funcionamento da União Europeia, nomeadamente o papel do Banco
Central Europeu, e de criar condições para que seja viável em cada país retomar o crescimento e o emprego,
como temos vindo a assinalar, mesmo que isso implique a revisão dos próprios tratados.
Por isso, Sr. Deputado Honório Novo, queria dizer-lhe, com toda a clareza, que, independentemente de vos
acompanharmos em grande parte do diagnóstico da crise e das dificuldades que a crise acarreta para Portugal
e para a União Europeia, o projeto do Partido Socialista é o de aprofundar a construção da Europa, é o de, no
contexto da União Europeia e da zona euro, pugnar para que esses instrumentos sejam criados, como, aliás,
temos vindo a apresentar sucessivamente.
Julguei que o Sr. Deputado Honório Novo iria referir-se hoje, por exemplo, ao facto de o Ministro Vítor
Gaspar ter anunciado que um banco alemão iria estar disponível para ajudar ao crescimento e ao emprego em
Portugal. Isso, sim, é que diminui — e o Sr. Deputado João Pinho de Almeida já não está aqui presente — a
nossa capacidade de intervenção, isso, sim, é que diminui a nossa dignidade enquanto parceiro na zona euro,
isso sim, é que, independentemente das cooperações a diferentes níveis, nos devia fazer com que
coincidíssemos numa crítica forte a um Governo que desistiu de Portugal, desistiu de lutar por Portugal, no
contexto da União Europeia.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Sr. Deputado Honório Novo, faça favor.
O Sr. Honório Novo (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado António Braga, em nome da seriedade do
debate e da seriedade que lhe reconheço em termos pessoais, não convém trazer para debates desta
natureza frases feitas e ideias preconcebidas.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. Honório Novo (PCP): — O senhor sabe muitíssimo bem que fazer parte da União Europeia não
significa obrigatoriamente fazer parte da União Económica e Monetária e da zona euro.
Portanto, o senhor não pode concluir que, quando manifestamos uma posição contrária à moeda única,
estamos a manifestar uma posição contrária à União Europeia.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. João Oliveira (PCP): — É olhar para o Reino Unido!
O Sr. Honório Novo (PCP): — Segunda questão: vamos ver se o senhor não caricatura aquilo que eu
disse.
O que eu disse foi o seguinte: hoje, o desmantelamento da União Económica e Monetária e a saída da
moeda única pode passar pela prevenção do País face a essa hipótese, que pode ser imposta por fora ou
pode ser uma opção própria do País.