I SÉRIE — NÚMERO 97
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Vamos iniciar a discussão da petição n.º 204/XII (2.ª) — Apresentada pela Associação Portuguesa de
Estudantes de Farmácia, solicitando à Assembleia da República que tome as medidas adequadas para que os
portugueses tenham um acesso de qualidade aos medicamentos e para que as farmácias disponham das
condições necessárias ao seu normal funcionamento.
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Bernardino Soares.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Sr. Presidente: Queria, em primeiro lugar, saudar os peticionários…
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Peço aos Srs. Deputados que se encontram na Sala a conversar
que se deslocarem para o exterior para podermos iniciar esta matéria com as condições básicas.
Sr. Deputado Bernardino Soares, faça favor de prosseguir.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito obrigado, Sr. Presidente.
Queria saudar, em primeiro lugar, os peticionários, os mais de 300 000 que apresentaram esta petição, que
bem demonstra a importância do tema que estamos hoje, aqui, a debater.
Queria, igualmente, saudar os representantes dos estudantes, da Associação Nacional das Farmácias e de
outras associações deste setor que participaram na recolha de assinaturas desta petição.
Temos, hoje, uma situação dramática para a rede de farmácias portuguesas: mais de 1200 farmácias
encontram-se com o fornecimento suspenso; quase 280 farmácias estão sujeitas a ações de insolvência e de
penhora; há a possibilidade de encerramento de 600 farmácias, em 2013.
As farmácias prestam um serviço essencial às populações, um serviço que não é substituível nem
dispensável para o acesso ao medicamento e a outros cuidados de saúde.
Trata-se de um serviço que é feito por uma rede de pequenas empresas, que são as farmácias, que
conjugam a prestação de um serviço público de saúde essencial com o facto de serem uma pequena unidade,
uma pequena empresa.
É uma rede que tem sido atacada pela política dos últimos governos dos últimos anos, que começou com a
liberalização da propriedade, fomentando a concentração e o controle por grupos económicos alheios aos
interesses públicos na área do medicamento, que continuou com a crise económica que está criada e que
também teve incidência nas medidas tomadas de diminuição da rendibilidade das farmácias.
Quem paga tudo isto não são só os profissionais e os proprietários das farmácias, são as populações,
porque quando se encerra uma farmácia, fica mais longe o acesso ao medicamento, porque em muitos sítios a
farmácia é o único ponto de apoio para questões de saúde, uma vez que o Governo já encerrou extensões, já
encerrou hospitais e outros serviços, e porque, quanto mais se concentra a propriedade e a localização das
farmácias, pior é o serviço para a população e pior é para o interesse público, incluindo a política do Estado
para o medicamento.
Quando estamos nesta situação, temos de tomar medidas para salvar, ainda, o que é possível para permitir
que as farmácias subsistam na prestação do serviço público, tomando medidas tais como o estabelecimento
de uma remuneração não paga pelo utente para medicamentos até um determinado preço ou, por exemplo,
para o pagamento até 90 dias dos fornecedores à indústria farmacêutica.
É preciso salvar, enquanto é possível,…
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Esgotou o tempo de que dispunha, Sr. Deputado.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Como eu estava a dizer, é preciso salvar, enquanto é possível, esta rede de farmácias e impedir que seja
tomada por grupos económicos que estão à espera para apanhar as que vão encerrando e para tornar a
política e o acesso ao medicamento, a partir das farmácias, muito mais difícil para as populações, muito mais
difícil para o povo português, e não podemos permitir que isso aconteça.
Aplausos do PCP.