I SÉRIE — NÚMERO 99
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Para terminar, Sr. Deputado, queria apenas dizer o seguinte: da parte do PCP, entendemos que é
justíssima a luta que os professores travam pela defesa dos seus postos de trabalho, pela importância do seu
papel na escola pública. Esta é, sobretudo, uma luta pelo papel da escola pública consagrado na Constituição
de Abril, um pilar do regime democrático, a escola pública gratuita, democrática e para todos e não a escola
pública que este Governo quer, uma escola que sirva apenas para aqueles que não têm condições de pagar a
escola privada. A escola pública e a luta que os professores estão a travar é a luta pela democracia e é desse
lado que estamos, com os professores e com os estudantes.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra o Sr. Deputado Luís Fazenda, para responder.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Rita Rato, agradeço-lhe a questão colocada.
Este é o maior despedimento coletivo na Administração Pública desde o princípio da democracia e tem
uma característica: é um despedimento nonstop, está sempre em evolução. Antecipam-se mais umas vagas
de despedimentos, e tudo isso vem atrofiar a escola pública, tudo isso vem diminuir a capacidade de igualdade
de oportunidades na sociedade portuguesa, tudo isso vem diminuir, inclusivamente, a formação da massa
crítica suficiente para transformações estruturais na inteligência portuguesa, tudo isso vem aumentar as
desigualdades sociais.
Repare na simulação, na reserva mental, na dissimulação política da parte do Governo, que diz que tudo
fará para não aplicar a mobilidade especial, tudo fará para que não se sinta sequer — porque não haverá um
aumento da carga letiva — que há um alargamento do horário de trabalho para as 40 horas, tudo fará para
que pareça que tudo fica na mesma. No entanto, mudou tudo. Isto é de um cinismo atroz! Pois se não querem
que se sinta coisa alguma, ponham no papel que não há mobilidade especial nem despedimentos para os
professores e que não há alargamento do horário de trabalho para as 40 horas. Se o não fazem, não é porque
não sintam a necessidade, é porque querem assumir um rosto de agressão, querem assumir um rosto de
conflito com os professores, querem, eventualmente, de hoje a amanhã, aplicar aquilo que neste momento
pressentem que não têm condições nem sociais nem políticas para aprofundar.
Portanto, o desafio que aqui se faz é muito simples: se o Governo diz que tudo aquilo por que os sindicatos
querem fazer greve não acontecerá, então, garantam em texto jurídico, na legislação aplicável, que tal não se
aplica aos professores. Terão desenvolvido, assim, uma atitude que permitirá dissolver este protesto e esta
luta nestas circunstâncias e que, certamente, beneficiará a escola pública, os alunos, as famílias e o País em
geral.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra o Sr. Deputado Acácio Pinto para pedir
esclarecimentos.
O Sr. Acácio Pinto (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Luís Fazenda, quero saudá-lo pelo tema
relevante que trouxe hoje a debate, a educação.
Para o Ministro da Educação e Ciência, para o PSD e para o CDS nada se passa na educação, está tudo
bem, é uma música celestial. Porém, isto não tem nenhuma correspondência com a realidade que se vive nas
nossas escolas e que vivem todos os agentes educativos.
É que a situação da escola pública hoje, em Portugal, é, efetivamente, uma situação dramática. O termo é
este: uma situação dramática! E por mais fugas para a frente que o Ministro da Educação e a sua equipa
façam nesta matéria, não conseguem iludir o grave problema com que estamos confrontados.
Gostaria de trazer aqui uma expressão e, a partir dela, fazer-lhe algumas perguntas. A expressão é «bom
senso».
Nos últimos dias, vários governantes, a começar pelo Sr. Ministro, utilizaram a expressão «bom senso». A
esse propósito, queria perguntar-lhe se acha que é de bom senso — quando, em tempo de crise, a aposta na
educação é relevante para os países e para as pessoas — que se continuem a fazer cortes ordinários,