I SÉRIE — NÚMERO 99
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O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Muito bem!
A Sr.ª Isabel Santos (PS): — O que não se resolve é o facto de este Governo ter sido eleito prometendo
que não iria haver despedimentos na Administração Pública nem cortes nos salários e estar a promover o
despedimento e cortes nos salários.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Também para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Artur
Rêgo.
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, estou como a Deputada Mariana Aiveca: espantado!
Porém, a mim, o que me espanta é o facto de nenhum dos Srs. Deputados ter levantado a questão de
saber por que é que existe uma lei de 2008 que previa que em 180 dias seria regulamentada e ainda não foi.
Isso é que é motivo de espanto. Se, por acaso, alguém tivesse levantado essa questão, eu encolhia-me,
porque esta maioria está no Governo há dois anos e, se calhar, já o deveria ter feito; e as bancadas do Partido
Socialista, se calhar, encolhiam-se porque estiveram no governo não sei quantos anos, fizeram a lei, mas não
a regulamentaram. Isso é que era motivo de espanto.
Agora, Srs. Deputados, o Estado não é uma entidade abstrata. O Estado somos todos nós. O dinheiro que
o Estado tem não cai da árvore das patacas, cai dos nossos impostos. E quando os nossos impostos não
chegam, como infelizmente aconteceu durante muitos anos, vamos pedir a alguém que nos empreste dos
impostos deles e agora pagamos com língua de palmo.
O Estado, sendo tudo o que é, é também uma entidade patronal. O Estado é a maior entidade patronal
portuguesa, tem centenas de milhares de pessoas a trabalhar para ele.
Digam-me uma coisa: é admissível que o Estado não saiba a quem paga, como paga, com quantos
regimes paga e qual o valor? Sabe cada um dos departamentos, mas não há uma informação e um tratamento
centralizado de toda essa informação, das centenas de milhares de funcionários do Estado, dos diferentes
regimes remuneratórios, das compensações, das regalias, dos benefícios, dos cartões de crédito… Nada
disso está centralizado. É um bocado caótico! De admirar e de espantar, realmente, é que até agora ninguém
tenha posto essa questão.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Artur Rêgo (CDS-PP): — O Governo vem, através desta proposta de lei, querer pôr um bocado de
ordem na casa, em primeiro lugar, para saber como se gasta e onde se gasta e, em segundo lugar, porque o
não se saber esta informação propicia as maiores injustiças. Há pessoas que, dentro do Estado,
desempenham cargos semelhantes ou de categoria semelhante e que têm regimes remuneratórios e de
compensação absolutamente diferentes.
Portanto, desse ponto de vista, não vejo que haja qualquer crítica e que seja minimamente atacável esta
iniciativa do Governo. Pelo contrário, deveria ser elogiada como parte do esforço de racionalizar o Estado, de
tornar o Estado mais racional, mais eficaz, mais moderno e melhor gestor do nosso dinheiro. De criticar seria,
sim, Sr. Secretário de Estado, o que eu já disse, ou seja, o facto de ao longo de dois anos não se ter ainda
procedido a esta regulamentação. Mas essa é outra questão.
Agora, passando um pouco à frente neste ponto, também acho extraordinário virem aqui com o argumento
da inconstitucionalidade, de se violar a separação dos poderes, etc., etc.
Protestos do BE.
Srs. Deputados, independentemente da autonomia de estatuto e funcional que têm essas entidades, não
são todos pagos pelo Estado? As remunerações não vêm do Estado? O Estado não tem de saber o que lhes
paga? Isso interfere com a autonomia funcional e de estatuto deles em quê? Isso viola a autonomia em quê?