19 DE JUNHO DE 2013
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caminho foi seguido, para casos idênticos, pela câmara de Milão, com resultado favorável para os
contribuintes italianos.
O IGCP aconselhou mesmo uma «versão musculada» nas negociações com a JP Morgan. O resultado,
contudo, foi o seguinte. Na semana passada, a Secretária de Estado, Maria Luísa Albuquerque aproveitou o
dia de Santo António para pagar 21 milhões de euros à JP Morgan para cancelar dois swaps «problemáticos»
com a própria REFER, um dos quais foi assinado, adivinhe-se por quem? Exatamente! Por Maria Luís
Albuquerque. Anulou um contrato assinado por si, reconhecendo assim a sua natureza especulativa daquilo
que tinha desempenhado como diretora financeira da REFER, atirando dinheiro para cima do problema que
tinha criado.
A JP Morgan, vale a pena referir, foi o banco que mais perdas potenciais provocou à REFER e o segundo
que mais provocou a todas as empresas. São 445 milhões de euros de perdas potenciais, tendo inclusive sido
classificado no nível 4 (sendo 5 o nível máximo) de complexidade/risco e de perdas provocadas.
O que é que o Governo fez, para lá de resgatar com 304 milhões de euros contratos cujas perdas podiam
chegar a 445 milhões? Deu um prémio à JP Morgan, entregando a privatização dos CTT a um banco de
investimentos que se tem especializado em ganhar dinheiro com o Estado português. É um «toma lá, dá cá»,
ou como o Governo corta nos salários e com os impostos mas vai concedendo generosos prémios à banca.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — São dois contratos assinados por Maria Luís Albuquerque, identificados pela
consultora contratada pelo Governo, a StormHarbour, com um grau de complexidade 4. Numa escala em que
1 é o mínimo e 5 o máximo, 4 é bastante complexo. O IGCP, usando a mesma escala, defende que todos os
contratos com risco superior a 3 sejam anulados judicialmente.
Resumindo: o mesmo tipo de contratos e de ligeireza no acautelamento do dinheiro dos cidadãos levou a
dois comportamentos distintos por parte do Governo. Uns foram demitidos, do Governo ou de empresas
públicas, sem que tenham sido tidos ou achados neste processo. Já o «braço direito» de Vítor Gaspar define
as regras da avaliação destes contratos, que, curiosamente, permitem que continue sentada do lado do
Governo.
Em declarações à imprensa, a Secretária de Estado Maria Luís Albuquerque terá garantido hoje que o
Governo já pagou 1000 milhões de euros aos bancos para anular perdas potenciais de 1500 milhões. Por este
andar, e não aceitando a via judicial que é dada em tantos pareceres e recomendada por tantos financeiros, o
Governo vai dar 2000 milhões à banca, um valor muito superior ao buraco potencial que existia quando tomou
posse.
Anos e anos, Sr.as
e Srs. Deputados, a ouvir PSD e CDS criticar o sorvedouro financeiro das empresas de
transportes, criticando os trabalhadores, aumentando em 25% as tarifas, e não fizeram nada, nada para
estancar a gestão calamitosa que foi efetuada pelos mesmos gestores que levaram para o Governo, e tudo
fizeram para que se chegasse a uma situação absolutamente ruinosa para os contribuintes mas não para a
banca.
Sr.as
e Srs. Deputados, dois anos a atacar as famílias e a economia do País, a cortar rendimentos, serviços
públicos, reformas! Dois anos que permitiram engordar os ganhos da banca com contratos especulativos! É
caso para perguntar se a resposta não está já dada, para quem trabalha no Governo do PSD e do CDS.
Aplausos do BE.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente António Filipe.
O Sr. Presidente: — A Sr.ª Deputada Ana Drago tem três pedidos de esclarecimento, dos Srs. Deputados
Filipe Neto Brandão, Teresa Leal Coelho e Paulo Sá.
Srs. Deputados, hoje vamos tentar ser rigorosos no tempo, porque temos seis declarações políticas,
havendo duas declarações políticas a título individual, ao abrigo do artigo 71.º Regimento. Portanto, vamos
procurar respeitar os tempos regimentais.
Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Filipe Neto Brandão.