I SÉRIE — NÚMERO 103
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O Sr. Filipe Neto Brandão (PS): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Ana Drago, felicito-a pela sua
intervenção.
Gostaria de dizer que também o Partido Socialista entende que o Governo tem estado muito mal neste
processo, e se algo caracteriza a atuação do Governo neste processo é a total opacidade.
O Governo, talvez à semelhança dos critérios dos relatórios que vão sendo conhecidos, que distinguem os
swap entre exóticos, tóxicos e outras categorias, entendeu que tinha dois Secretários de Estado tóxicos e
livrou-se desses Secretários de Estado; não direi que a Sr.ª Secretária de Estado do Tesouro é exótica, mas é
inequívoco que é um exotismo a sua permanência no Governo.
É verdade que algumas perplexidades se suscitam e é bom que tenha sido constituída uma comissão
parlamentar de inquérito para apurar, nomeadamente, por que razão o presidente do Banco Santander veio a
público dizer que há dois anos advertiu este Governo sobre a renegociação dos swaps com vantagem para a
entidade pública, o que não aconteceu. Do mesmo modo, importa explicar — e esta é a pergunta que dirijo à
Sr.ª Deputada — por que razão, em sua opinião (e já o referiu), houve a opção de encerrar contratos, de
fechar posições contratuais no momento em que as taxas de juro se traduzem numa potencial maior perda
para a entidade pública.
São estas questões, todas relacionadas com a falta de transparência, ou, melhor dito, com a opacidade na
condução deste processo, que queria colocar à consideração de V. Ex.ª, Sr.ª Deputada, pedindo a sua opinião
relativamente a esta singular posição do Governo.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Flipe Neto Brandão, agradeço muito a questão que
colocou.
Creio que esta Assembleia terá muito trabalho pela frente e o Sr. Deputado faz parte da comissão de
inquérito entretanto criada para avaliar exatamente como é que este processo foi possível, como foi possível
assinar um conjunto de contratos que, aparentemente, levam em conta algumas variáveis abstrusas na
proteção do crédito.
Portanto, é necessário perceber como é que foi possível fazer estes contratos, é necessário perceber —
deixe-me dizer-lhe com toda a clareza — como é que, na altura, a tutela governativa permitiu que empresas do
setor empresarial do Estado fizessem este tipo de contratos, mas é necessário perceber também algo
absolutamente extraordinário, que é um Governo dizer que o Estado, em Portugal, gasta demais, que as
famílias gastam demais, que é preciso fazer, o mais rapidamente possível, um encolhimento das obrigações e
dos compromissos do Estado, e descobrirmos que as pessoas que o Governo escolheu para governar e fazer
os cortes fundamentais, em nome do rigor e da consolidação orçamental, tinham sido aquelas que, com toda a
generosidade em relação à banca, tinham assinado um conjunto de contratos especulativos.
Mas há aqui um problema que o Bloco de Esquerda apresenta hoje. Há uma atuação específica do
Governo no que toca a esta matéria que tem a ver com a ocultação e com a tentativa de branquear a
participação da Sr.ª Secretaria de Estado do Tesouro.
Poderia dizer-se que o Ministro Vítor Gaspar conhecia mal a Administração Pública e que não conhecia
estes contratos. Porém, é uma estranheza, porque tinha como Secretária de Estado, desde o primeiro
momento, Maria Luís Albuquerque, que não só conhecia bem o Ministério das Finanças como até tinha sido
diretora financeira da REFER, onde fez um conjunto de contratos que, avaliados exatamente pelo Ministério
das Finanças, continham este aspeto extraordinário: se a Euribor descesse 1 ponto, o Estado perdia; se a
Euribor subisse 1 ponto, o Estado perdia na mesma. Portanto, era preciso que alguém nos explicasse que tipo
de competência técnica ou de interesse na defesa do interesse público podia ter a Sr.ª Secretária de Estado.
Mas mais; quando o processo se torna público no debate político, quem é que esteve dois anos «sentada
em cima do problema»? Maria Luís Albuquerque! Quem é que vai definir as regras de avaliação desses
mesmos contratos? Maria Luís Albuquerque! Quem é que tem nas mãos relatórios de auditoria e não os
divulga? Maria Luís Albuquerque!