I SÉRIE — NÚMERO 112
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A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O Hospital de Braga, inaugurado há
dois anos e gerido através de uma parceria público-privada com o Grupo Mello Saúde, regista um número
record de irregularidades que, no mínimo, levantam sérias e fundadas dúvidas sobre a qualidade dos serviços
ali prestados.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — É verdade!
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — O Hospital de Braga, que abrange uma população de cerca de 1 milhão e 100
mil pessoas, é um negócio apetecível para os grupos económicos que veem na saúde uma fonte de lucro.
Mas é obrigação do Estado fiscalizar e não permitir o autêntico regabofe sob irregularidades e
incumprimentos.
Apenas alguns exemplos: transferência de doentes para os hospitais do Porto, alteração de medicação a
doentes, atrasos em tratamentos oncológicos, um médico que anestesia vários doentes ao mesmo tempo,
desmarcação de cirurgias, inclusive com doentes já internados, que têm de ir para casa, tratamento abusivo
dos profissionais, regulamentos absurdos sobre fardas e normas de conduta, imposição de serviço adicional,
recibos de vencimento com publicidade a empresas e até uma situação completamente inédita de o diretor
clínico do hospital ser, simultaneamente, diretor de sete serviços.
A ARS Norte acordou tarde para esta situação e anunciou uma inspeção às questões que se prendem com
o serviço de anestesia, acordou tarde e o que decidiu é insuficiente, é todo o funcionamento do Hospital que
precisa urgentemente de ser alvo de uma inspeção global. Têm de ser apuradas responsabilidades.
O Bloco de Esquerda reafirma a sua posição: o que é público deve ser gerido pelo Estado. Pagar pela
gestão privada de um serviço que é público, para além de não fazer sentido algum, revela-se — como é
evidente neste caso — prejudicial para o Estado e para as pessoas que não têm acesso aos cuidados de
saúde nas devidas condições.
O Governo não pode olhar para o lado nem tomar medidas parcelares. O interesse público exige uma
inspeção global ao Hospital de Braga, o primeiro passo para o resgate desta PPP, e a integração plena do
Hospital no Serviço Nacional de Saúde.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Carla Cruz.
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: A situação que hoje se vive no Hospital de
Braga — que funciona em regime de parceria público-privada — não pode ser avaliada desligando-a da
ofensiva que têm sido feita ao Serviço Nacional de Saúde, nem pode ser desagregada da agressão mais
geral, sustentada politicamente nos «compromissos» do pacto de agressão.
Assim, quando em 2009 o então Governo PS celebrou o contrato com o Grupo Mello, concluía-se um
processo que o PSD tinha lançado. E prosseguia-se um anseio da direita portuguesa: criar em Portugal um
serviço público, desvalorizado e sem meios, para os mais pobres, como está consagrado no Programa do
Governo, e a entrega à prestação privada dos cuidados de saúde de todos os que possam pagar.
A opção por parcerias público-privadas é, como sempre o PCP defendeu — e o recente relatório sobre as
PPP evidencia-o —, ruinosa para o Estado, para os contribuintes, mas altamente lucrativa para os privados.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Carla Cruz (PCP): — Em termos de encargos para o Estado, a PPP de Braga já pagou, só à
entidade gestora da parte clínica, entre os anos de 2010 e os primeiros meses de 2012, cerca de 300 milhões
de euros, ao que se somam os pagamentos efetuados à entidade gestora do edifício.
Mas, Sr. Presidente e Srs. Deputados, para além dos custos financeiros, são muito graves os custos que
este tipo de contrato tem nos utentes e nos profissionais. Sucedem-se episódios que não só atropelam o
contrato que foi celebrado como vão contra toda e qualquer boa prática na prestação de cuidados de saúde.