I SÉRIE — NÚMERO 7
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Quanto a isso, não existam quaisquer dúvidas. E concordamos com as críticas aqui apontadas.
Relativamente à dita «convergência das pensões» e ao corte nas pensões de sobrevivência, o Sr.
Deputado faz referência ao inaceitável corte retroativo nestas pensões, e aí tem a nossa total concordância.
No entanto, não faz qualquer tipo de referência aos cortes nas pensões futuras. Por isso, pergunto-lhe: se o
corte nas pensões de sobrevivência e nas pensões dos trabalhadores da Administração Pública fosse
estipulado apenas para o futuro, o PS estaria de acordo com isso e estaria na disposição de inverter este
processo aqui iniciado?
Vozes do PCP: — Boa pergunta!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — A segunda pergunta diz respeito à condição de recursos e ao famoso
Decreto-Lei n.º 70/2010, de 16 de junho, que o PCP tantas vezes combateu nesta Assembleia. Assim,
pergunto-lhe que avaliação faz o Sr. Deputado das consequências que este Decreto-Lei tem nas prestações
sociais. É ou não verdade que as consequências numa prestação social tão importante como o abono de
família foram verdadeiramente dramáticas, no que diz respeito à aplicação do Decreto-Lei n.º 70/2010 e desta
condição de recursos? É ou não verdade que esta condição de recursos, que agora o PSD e o CDS-PP
querem aplicar às pensões de sobrevivência, tem coisas verdadeiramente inaceitáveis como a de obrigar os
reformados de 65, 70 e 75 anos de idade a prestar informações, através de declarações de património e
declarações de IRS, criando, assim, uma teia burocrática que tem como único e exclusivo objetivo cortar no
acesso às prestações sociais? Gostaria de saber que avaliação faz o Partido Socialista desta matéria e se é
ou não verdade que este Decreto-Lei n.º 70/2010 tem como escopo final impedir a atribuição dessas mesmas
prestações sociais.
Para concluir, Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, que não haja qualquer dúvida: o PCP estará na linha
da frente no combate a esta obscenidade social que aqui é proposta, quer nos cortes retroativos quer nos
cortes futuros, porque o caminho do nosso País não pode ser o do ataque sistemático a quem menos pode e a
quem menos tem na nossa sociedade.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Vieira da Silva.
O Sr. Vieira da Silva (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Jorge Machado, julgo que sobre esta questão,
que é uma questão séria e complexa, não devem restar muitas dúvidas sobre os seus aspetos centrais. Existe
um problema de sustentabilidade de todos os sistemas de proteção social, em todos os países desenvolvidos.
É certo que o problema da sustentabilidade da segurança social, em Portugal, é hoje enormemente agravado
pelo prolongamento de uma recessão que foi para além de tudo o que era aceitável.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Vieira da Silva (PS): — Há fatores demográficos e de mudança socioeconómica que obrigam a que
uma visão responsável sobre o futuro da proteção social deva ter em conta o problema da sua
sustentabilidade.
Mas há uma linha fundamental. Essa linha tem a ver com preparar a sustentabilidade sem pôr em causa o
Estado de direito, ou usar o álibi da sustentabilidade para pôr em causa o Estado de direito.
Aplausos do PS.
E essa linha tem a ver com o corte nas pensões já atribuídas.
O PS nunca recusou a discussão da sustentabilidade futura da proteção social, do melhoramento da
convergência, que achamos positiva e necessária. Mas não é isto que está em discussão, não foi isto que
moveu o Governo, não é isto que está no Programa do Governo, não é este o código genético desta política. A
explicação desta política é, pura e simplesmente, esta: é preciso cortar, vamos lá ver onde.