I SÉRIE — NÚMERO 8
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despoluição, segundo, pela mitigação dos efeitos e, terceiro, deve ter uma abrangência preventiva e proibitiva
em algumas situações porque é disso que precisamos para, de facto, impedir ou combater as externalidades
ambientais que estas matérias acabam por ter.
A preocupação deve acompanhar todo o ciclo de vida dos produtos e não apenas as soluções para o fim
do ciclo, em que é preciso tratar dos resíduos perigosos.
Termino, Sr.ª Presidente, dizendo que a recomendação do CDS é positiva mas generalista e, do nosso
ponto de vista, devia ir mais longe. Nesse sentido, penso que o Parlamento, num futuro próximo, deverá
encontrar o tempo e a altura para debater uma questão tão importante como é o controlo e a fiscalização em
relação aos resíduos perigosos no nosso País.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Sá.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: A análise da ação do Governo na área dos
resíduos perigosos revela um claro alheamento, reconhecido pelo próprio CDS no seu projeto de resolução: a
produção de resíduos em Portugal continua a aumentar, a capacidade instalada nos dois Centros Integrados
de Recuperação, Valorização e Eliminação de Resíduos Industriais Perigosos (CIRVER) está subaproveitada,
a fiscalização da atividade dos operadores de gestão de resíduos perigosos é insuficiente e a regulamentação
do regime jurídico dos solos contaminados continua por fazer.
A estratégia nacional de gestão de resíduos perigosos deve estabelecer como prioridade a prevenção da
produção de resíduos, atacando o problema logo na origem. E o que tem feito o Governo nesta matéria?
Nada, Srs. Deputados, absolutamente nada! Toda a sua energia tem sido canalizada para aquilo que é a sua
única preocupação neste setor: preparar terreno para a total privatização do setor dos resíduos urbanos.
Vozes do PCP: — Exatamente!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Desde 2008, Portugal dispõe de dois modernos Centros Integrados de
Recuperação, Valorização e Eliminação de Resíduos Industriais Perigosos com capacidade para o tratamento
anual de cerca de 250 000 toneladas de resíduos perigosos. Contudo, esta capacidade está a ser aproveitada
apenas a dois terços, em consequência da proliferação de centenas de outras instalações que recebem
resíduos industriais perigosos e ainda da exportação desses resíduos em quantidades muito significativas.
Esta situação, a manter-se, colocará em risco a viabilidade económica destes centros integrados,
comprometendo o objetivo de autossuficiência do nosso País em matéria de tratamento de resíduos perigosos.
Para este problema, a resposta do CDS é a mesma do costume: confiar nas regras do sacrossanto mercado e
esperar que tudo se resolva pelo melhor.
O Sr. Altino Bessa (CDS-PP): — Com fiscalização!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — A resposta não está nos mercados, Srs. Deputados, mas sim numa intervenção
vigorosa do Estado, visando garantir a redução significativa das exportações de resíduos perigosos e o pleno
aproveitamento da capacidade instalada nos dois centros integrados de tratamento.
Por fim, a questão relativa aos solos contaminados.
Recordemos que, em outubro de 2012, há um ano, o Secretário de Estado do Ambiente chegou a anunciar
para breve legislação específica relativa a esta matéria.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Um ano depois, essa legislação ainda não viu a luz do dia.
Também o anterior Governo do PS havia anunciado, em abril de 2010, uma estratégia para solos
contaminados, integrando uma proposta de legislação de proteção do solo e normas técnicas para a avaliação
de solos contaminados. Também este anúncio não passou de uma inconsequente declaração de intenções.