12 DE OUTUBRO DE 2013
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Existem também experiências em vários países — Estados Unidos da América, Austrália, França,
Alemanha, Canadá, alguns cantões da Suíça, etc. — e vários estudos de várias universidades.
Países como a França mantêm a proibição da exploração deste gás. Aliás, a proibição vem,
inclusivamente, do tempo em que Sarkozy governava, na França.
Tudo aponta para uma conclusão: trata-se de um modelo energético falhado. Falhado, Sr.as
e Srs.
Deputados!
As consequências negativas da exploração e extração do gás de xisto têm suscitado, e bem, o protesto das
populações, um protesto muito alargado.
No nosso País, estão assinados contratos para a prospeção do gás de xisto, na zona de Aljubarrota.
Antes que seja tarde demais e perante tanta evidência científica, o Bloco de Esquerda propõe ao
Parlamento que recomende ao Governo a proibição da exploração e da extração do gás de xisto. Antes que
seja tarde demais, Sr.as
e Srs. Deputados.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Farmhouse para uma
intervenção.
O Sr. Pedro Farmhouse (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Um estudo recentemente
publicado na revista da Academia Americana de Ciências dá conta da contaminação de grandes reservatórios
de água potável próximos de jazidas de exploração de gás de xisto.
O trabalho desenvolvido pela Universidade de Duke, baseado em amostras de água de 141 poços
privados, conclui por uma concentração de gases em poços situados a menos de 1 km de locais de perfuração
seis vezes superior à dos poços mais distantes.
Tais factos, cientificamente adquiridos, dão que pensar, Sr.as
e Srs. Deputados, e são apenas um exemplo
daquilo que nos espera no outro lado da medalha. Uma medalha que só foi possível graças aos avanços
tecnológicos alcançados nos últimos anos e que permitiram a recuperação de gases e óleos de formações
rochosas de xistos, as quais, até aqui, não podiam ser exploradas e aproveitadas na sua plenitude.
Sr.as
e Srs. Deputados, debruçamo-nos hoje sobre um tema aparentemente irrelevante, mas que assumirá
uma importância crescente nos tempos que se avizinham. Sinal disso é o facto de, em novembro do ano
passado, a Agência Internacional de Energia ter afirmado que, já em 2015, os Estados Unidos da América irão
ultrapassar a Rússia, tornando-se nos maiores produtores de gás natural. Para esta afirmação concorre
sobretudo a adoção de novas técnicas de exploração e extração com uma fragmentação hidráulica que tornam
as reservas americanas muito mais acessíveis, técnicas plenas de riscos e incógnitas ambientais.
Sr.as
e Srs. Deputados, sabemos que, em matéria energética, é imprescindível e desejável diversidade nas
fontes, o que não se traduz automaticamente em melhor desempenho ambiental. Por isso, apresentamos esta
iniciativa legislativa.
É que se nos Estados Unidos a fragmentação hidráulica foi relativamente bem recebida, as primeiras
experiências na Europa encontram-se envoltas em grande polémica. Veja-se o que aconteceu com duas
prospeções no condado de Lancashire, no Reino Unido, em que se registaram dois sismos, o que originou a
sua suspensão em maio de 2011. Em consequência deste caso, foram realizados pelo governo britânico
diversos estudos técnicos que vieram alertar a comunidade científica e a população em geral para a existência
de risco sísmico, embora o mesmo possa ser eficazmente gerido com controlo.
Estudos concluem que a atividade pode processar-se sob estrita regulamentação e salvaguarda dos
respetivos impactos ambientais e sobre as populações. Atualmente, são vários os países europeus
interessados na exploração de gás de xisto com recurso à fragmentação hidráulica, como sejam a Polónia, a
Alemanha, a Holanda, a Espanha, a Dinamarca ou a Suécia, embora existam países onde a técnica é
rejeitada, como em França, tal como já aqui foi referido, onde, aliás, é matéria consensual entre os principais
partidos do arco da governação a sua proibição.
Sr.as
e Srs. Deputados, a fragmentação hidráulica tem sido contestada não só pelos seus potenciais
impactos na atividade sísmica como pelas consequências que acarreta para a qualidade de água subterrânea,