I SÉRIE — NÚMERO 15
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Em segundo lugar, a importância da definição deste domínio público prende-se com a garantia de que o
que é público não pode nem deve ser gerido com princípios de lucro, tem de ser gerido com outros princípios,
e por uma razão muito simples: porque implica direitos de saúde, direitos de defesa, de mobilidade, de
educação.
Em segundo lugar, achamos que é importante esta definição também por razões económicas. Toda a
gente sabe que os monopólios têm caraterísticas específicas, economicamente falando: violam claramente as
leis da concorrência, têm barreiras à entrada que permitem a quem sejam garantidos estes monopólios possa
ter rendas muito superiores aos lucros médios de mercado.
Portanto, quando falamos em privatização de serviços públicos e monopólios naturais estamos a falar
apenas na concessão de grandes rendas a grupos económicos. Assim, ao defender o domínio público
assumimos que há esferas que não devem pertencer ao mercado, são esferas públicas. É o nosso património
cultural, é a nossa saúde, os nossos direitos, a nossa educação. Consideramos, portanto, que este projeto
visa defender os direitos económicos, os interesses económicos do País, que nem sempre são sinónimo de
interesses de mercado, e portanto, neste sentido, o interesse da sociedade e das várias gerações que a
compõem.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Paulo Figueiredo.
O Sr. Rui Paulo Figueiredo (PS): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O projeto do Bloco de
Esquerda procura estabelecer as condições de salvaguarda dos monopólios naturais no domínio público do
Estado em razão de essa salvaguarda não estar legislada ou regulamentada.
Este projeto é idêntico a outro que já tivemos oportunidade de debater em conexão com a matéria de
privatizações e de concessões.
Na altura dissemos, e não mudámos de opinião, que este era um bom projeto para abrir as avenidas da
discussão em relação a um tema importante e relevante, mas que não íamos acompanhar, como não
acompanhámos, em razão do manifesto excesso quanto à limitação de uma eventual exploração por
entidades privadas.
Temos pena que seja exatamente o mesmo projeto e que o Bloco de Esquerda não tenha feito algumas
alterações no sentido de aproximar posições, porque este é um tema importante e relevante, ou seja, o da
necessidade de salvaguarda dos interesse estratégicos nacionais.
É igualmente por isso que o Partido Socialista também tem apresentado ideias e tem debatido este tema, e
que há dois anos, quando aprovámos e debatemos aqui a lei-quadro das privatizações, foi por proposta do
Partido Socialista que foi consagrada a necessidade, nessa lei-quadro, de regulamentar e legislar sobre a
salvaguarda dos interesses estratégicos nacionais.
Há dois anos que estamos à espera que o Governo legisle sobre esta matéria. Várias vezes temos aqui
debatido este tema, várias vezes aqui falámos disto, mas as explicações do Governo têm sido muito coxas
sobre esta matéria. O Governo tem-se enredado em explicações, mas o facto é que há dois anos que não
legisla sobre esta matéria, não cumpre a lei e tem insistido em privatizações e concessões.
Esta semana, o Sr. Secretário de Estado, na Comissão de Economia e Obras Públicas, deu mais outra
explicação sobre esta matéria. Disse que, sim senhor, o Governo queria cumprir a lei — mais faltaria que não
quisesse! Mas o facto é que há dois anos que não a cumpre. Disse também que tinham tido muitas
dificuldades, porque têm estado em permanente diálogo com a Comissão Europeia, que iam mandar o
diploma para Bruxelas, porque era preciso que fosse revisto pela Comissão Europeia, mas não conseguiu
explicar o que é que se passa, porque dizia que era matéria reservada.
Ora, não percebemos porque é que o Governo não legisla sobre esta matéria, não percebemos porque é
que não a explica, não percebemos se quer privatizar e concessionar tudo antes de legislar sobre os
interesses estratégicos nacionais ou se a Comissão Europeia, para além de ter uma interferência excessiva
quando faz comentários sobre instituições portuguesas, como, por exemplo, sobre o Tribunal Constitucional,
também parece querer limitar o Governo de legislar sobre a salvaguarda dos interesses estratégicos
nacionais.