2 DE NOVEMBRO DE 2013
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Por exemplo, quando temos de atingir o resultado 10, não é a mesma coisa discutirmos se o fazemos por
5+3+2, ou 4+2+4, ou 3+3+4, ou 1+6+3 – ou, diferentemente, fazer-se de conta que a soma pode ser 12, ou 14,
ou 17, que não pode. Os lances e tiradas fora da realidade podem ser interessantes no folclore oratório ou na
perspetiva de panfletos de jornal de parede; mas o país precisa de um discurso político maduro que vá além
do panfleto e do jornal de parede.
O País reclama que todos sejamos capazes de fazer diferente do que fizemos até 2011. Só assim daremos
a volta. Só agindo de forma fundamentalmente diferente daquilo que fizemos, poderemos chegar a resultados
muito diferentes, como precisamos. Se continuarmos a agir como sempre fizemos, é mais natural que
continuemos a colher o que sempre escavámos.
Como criticaremos nós as agências de notação, se nós próprios déssemos mau rating a Portugal?
Resultados melhores é aquilo que temos que alcançar. Mais nada! Temos — todos — de conseguir que, à
saída da Assembleia, o Orçamento do Estado para 2014 seja melhor do que o que entrou. E temos — todos
— de ter em perspetiva que o Orçamento do Estado para 2015 possa vir a ser melhor que o Orçamento do
Estado para 2014. Assim sucessivamente. Se não for assim, não estamos a servir Portugal, nem a contribuir
para nos retirar da crise.
O Deputado do CDS-PP, José Ribeiro e Castro.
——
Este não é um voto contra o Governo da República. É um voto contra a proposta de lei n.º 178/XII (3.ª) que
foi apresentada aos Deputados para discussão e votação na generalidade.
Em 2012, aquando da discussão do Orçamento de Estado para 2013, critiquei o aumento desmesurado e
desproporcional de impostos, ou seja, 85% do montante da consolidação orçamental foi realizada do lado da
receita e não, através do necessário corte na despesa.
Para o Orçamento do Estado para 2014 há uma inversão, sendo que 86% da consolidação orçamental é
feita através da redução da despesa e apenas 14% do lado da receita. No entanto, é de salientar que 57% dos
3.901 milhões de euros da consolidação orçamental, advêm de cortes efetivos nos rendimentos dos
funcionários públicos e prestações sociais.
Quando, ao fim de 10 trimestres consecutivos com a economia a decrescer, aparecem sinais de inflexão,
com uma previsão de crescimento de 0,8% para 2014, o Governo insiste em cortar nos rendimentos, retirando
potencialmente à economia 2.211 milhões de euros, por via desses mesmos cortes.
Entendo que este era o tempo de corresponder à expectativa positiva que o ligeiro crescimento gerava,
através de um orçamento de esperança, que incentivasse esse mesmo crescimento, que não penalizasse
tanto o rendimento, que combatesse o desemprego, que gerasse atração de investimento e que promovesse a
confiança entre os agentes económicos.
Conhecendo os resultados da economia — que poderia crescer mais se a estratégia seguida apontasse ao
crescimento — voltou a vingar uma espécie de tecnocracia orçamental.
Deve salientar-se, no entanto, que este Orçamento seria sempre um exercício difícil, pelas restrições
decorrentes do memorando e pelas conclusões das últimas avaliações pela troica.
Não posso deixar, neste ponto, de lamentar a pouca abertura negocial da troica, que voltou a não permitir
que o Governo flexibilizasse a meta do défice. Recordo que se fosse permitido ter um défice de 4,5% em vez
de 4%, teríamos uma folga de 800 milhões de euros que tornariam, por exemplo, desnecessários os cortes na
função pública e permitiriam baixar o IVA da restauração.
Sendo este um documento de importância nacional, é no entanto necessário perceber as implicações que
terá na Região Autónoma da Madeira, já condicionada por um Plano de Ajustamento Económico e Financeiro
que já deveria ter sido negociado pelos dois governos.
Na Região Autónoma da madeira, 24% dos trabalhadores são funcionários públicos. Um corte substancial
nos rendimentos desta classe profissional poderá significar um duro golpe na já debilitada economia da
Região.
Ainda, no que concerne à Região Autónoma da madeira, há legitimas reivindicações consagradas em
preceitos legais e constitucionais que não ficaram asseguradas no Orçamento do Estado para 2014: