I SÉRIE — NÚMERO 21
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É uma opção verosímil e respeitável da parte do Partido Socialista. Mas, então, digam tudo, e de forma
clara, aos portugueses.
É que «mais tempo» também significa mais dívida, mais juros, mais austeridade, mais dependência e,
sobretudo, mais troica.
Quando se quer ser alternativa é preciso ser-se consequente nas propostas que fazemos. Da parte da
maioria, Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, mantemos o que sempre dissemos: um só programa, um só
calendário, um só envelope financeiro e uma só data para a saída da troica — Julho de 2014!
É para isso que trabalharemos e é por isso que aprovaremos um Orçamento que nenhum governo,
nenhuma maioria, gostaria de ser obrigado a apresentar, conscientes do que pedimos, certos das dificuldades,
exigentes connosco e com os nossos credores, na certeza de que é preciso, de que é mesmo urgente
começar a pensar o Portugal pós-troica, pensar num Portugal que, sem programas e na plenitude da sua
autonomia e com uma economia viável e fiável, seja um parceiro respeitável e respeitado na Europa; que, com
a máxima liberdade, mas também com a máxima responsabilidade, possa ser uma voz ouvida capaz de
contribuir para uma Europa em que o princípio da solidariedade não conste apenas da Carta dos Direitos
Fundamentais da União, em que a coesão e a integração europeias não sejam meros excertos de discursos
ou em que uma supervisão mais forte e menos sonolenta seja uma inevitabilidade. Uma Europa que mostre
que é capaz de estar à altura do momento, que aprendeu com os erros e que tudo fará para que, fortalecendo-
se, eles não se repitam.
Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: Dissemos aqui,
há um mês, na discussão na generalidade, que se este Orçamento é um exercício exigente, ele responde, a
nosso ver, às questões inadiáveis do País: à necessidade de cumprir o Programa e sair do ajustamento; aos
sinais de recuperação económica; e à procura de responder a estas prioridades com equidade social, justiça e
solidariedade social. É o que estamos a tentar fazer, conscientes das dificuldades, mas certos de que, em
democracia, os mandatos não se escolhem, são dados pelo povo, apenas pelo povo, e são para ser
cumpridos, com convicção e com sentido de compromisso, com firmeza mas com humildade no diálogo e na
concertação social, sempre a pensar em Portugal, com a noção das dificuldades mas com a esperança de
que, daqui a pouco mais de seis meses, possamos dizer: «Entregaram-nos um País na bancarrota, mas, todos
juntos, fomos capazes de deixar um País respeitado e respeitável, que cumpre as suas obrigações, honra o
passado, tem presente e, sobretudo, sabe construir o futuro!»
Aplausos do CDS-PP, de pé, e do PSD.
A Sr. ª Presidente: — Tem agora a palavra, pelo PS, o Sr. Deputado António José Seguro.
O Sr. António José Seguro (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.as
e Srs. Membros do
Governo, Sr.as
e Srs. Deputados:
O Governo bem tentou esconder, mas os portugueses sabem que vão ser sobrecarregados com mais
sacrifícios por opção do PSD e do CDS.
Ao brutal aumento de impostos somam-se novos cortes nos salários dos funcionários públicos e novos
cortes nas reformas e nas pensões de velhice e de sobrevivência.
O Governo bem pode esbracejar para tentar justificar estas opções «de cortes e mais cortes» com os
resultados alcançados, mas o argumentário do Governo chumba no teste da realidade.
Esta política de empobrecimento não atinge os resultados em nome dos quais é aplicada.
Com efeito, o Programa de Ajustamento previa um montante de 9 mil milhões de euros de austeridade para
atingir um défice de 2,3% no final de 2014, para não falar da meta a que este Governo se autovinculou de
1.8% no DEO (Documento de Estratégia Orçamental) de agosto de 2011.
Até este momento, o Governo já aplicou, e prepara-se para aplicar um total de 17 mil milhões de euros
para atingir um défice pretendido de 4% no final do mesmo período. Ou seja, o Governo exige aos
portugueses quase o dobro da austeridade, ficando tão longe da meta dos 2,3% de défice.
Como é que o Governo explica que, só este ano, tenha exigido 5 mil milhões de euros de sacrifícios e o
défice não tenha diminuído?