27 DE NOVEMBRO DE 2013
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Portugal relançou as exportações em mercados inesperados e surpreendeu tudo e todos com um saldo
externo positivo, histórico para o século XXI.
Instituições nacionais e internacionais realçam a nossa capacidade numa só conclusão: mais uma vez, os
portugueses foram capazes de fazer das fraquezas forças.
Não estamos triunfalistas, mas estamos reconhecidos ao talento e ao esforço dos portugueses.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Não estamos cegos com os resultados, mas estamos atentos a quem fica nas margens do sucesso e aos
que pior suportam a severidade da crise.
Não estamos descansados. Sabemos que a retoma é lenta e moderada e o caminho é duro, quer nos
próximos sete meses quer no período pós-troica.
Srs. Deputados, o futuro de Portugal exige rigor, solidariedade e crescimento — as três marcas do
Orçamento do Estado para 2014.
Exige rigor, porque o desequilíbrio das contas públicas paga-se em impostos e em reduções salariais; rigor,
porque temos de diminuir a despesa pública, expurgá-la de gastos inúteis, ao mesmo tempo que devemos
garantir um Estado mais eficiente.
Exige solidariedade, porque temos obrigação de não deixar ninguém para trás; solidariedade, porque se
impõe que se protejam as pessoas com rendimentos mais baixos, com critérios de equidade social e que se
aproveite a rede de instituições da economia social, como faz este Orçamento.
Exige crescimento, porque só evitamos novos resgates no futuro se conseguirmos um percurso ambicioso
e realista de recuperação económica; crescimento assente no incentivo ao investimento e na transformação
estrutural do País.
Srs. Deputados, todos sabíamos, desde o início, que este Orçamento não tinha folgas e que todas as
alterações que o Parlamento introduzisse teriam de ter uma compensação.
Esse sentido de realismo e responsabilidade obrigava-nos a todos: maioria e oposição.
E foi com esse espírito de abertura responsável que conduzimos o debate na especialidade: ouvimos e
analisámos todas as sugestões, de todos os partidos; na maioria, não nos eximimos a dar o nosso contributo
para melhorar a proposta.
Registo, a título exemplificativo, as seguintes alterações propostas pelo PSD e pelo CDS: o aumento do
limite mínimo a partir do qual se aplicam as reduções remuneratórias na Administração Pública, de 600 € para
675 €; o aumento do limite a partir do qual se aplica a convergência das pensões da Caixa Geral de
Aposentações com a segurança social, de 419 € para os 600 €; a revisão do enquadramento tributário para as
famílias, tendo em conta a dimensão do agregado; a prorrogação, até ao final de 2014, do regime de isenção
em sede de IMT e IMI de imóveis situados nas zonas empresariais responsáveis, como forma de apoio ao
investimento; o apoio e a clarificação do regime fiscal das instituições particulares de solidariedade social.
Do mesmo modo, foram aprovadas propostas de todas as bancadas da oposição. Ao contrário do que
disse o Secretário-Geral do PS, tiveram aceitação propostas apresentadas pelo Partido Socialista, como a das
contratações para o ensino superior desde que não aumente o valor total das remunerações; a proposta que
prevê a aproximação do preço do gás de garrafa às tarifas do gás natural; a proposta que isenta de IVA não
apenas os direitos de autor mas os direitos conexos; ou, ainda, a introdução de um calendário excecional, em
2014, nas transferências para as novas freguesias de Lisboa.
Foram também aprovadas a proposta do PCP que limita a contratação de empresas de consultoria, a
proposta do Bloco de Esquerda relativa ao envio ao Parlamento de um relatório anual com as remunerações,
prémios de gestão e outros benefícios dos gestores do Estado, que aumenta a transparência do sistema, e a
proposta de eliminação de um artigo sobre aposentação apresentada pelo Partido Ecologista «Os Verdes».
Todos estes exemplos, Srs. Deputados, enaltecem os trabalhos parlamentares e mostram que é possível
convergir na diferença.
Mas convergir na diferença pressupõe também que a aproximação não se deixe contaminar pela
demagogia e pelo populismo mais básicos. Apresentar desagravamentos fiscais em troca de um imposto
sobre as PPP, como fez o PS, e fazer disso um teste ao consenso não é sério.