I SÉRIE — NÚMERO 23
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apesar das brutais medidas de austeridade, de cerca de 20 000 milhões de euros, impostas aos trabalhadores
e ao povo, o saldo primário manteve-se negativo. Em consequência, a dívida pública, em vez de diminuir,
aumentou, atingindo quase os 130% do PIB.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — No próximo ano, mesmo que se viessem a atingir as metas estabelecidas pelo
Governo no Orçamento do Estado — as quais, como sabemos, são extremamente otimistas, mesmo irrealistas
—, um crescimento económico de 0,8% e um saldo primário de 0,3% ficariam muito aquém do necessário para
assegurar a sustentabilidade da dívida pública. Mesmo no cenário cor-de-rosa traçado pelo Governo para o
próximo ano, a dívida pública continuará a subir em termos nominais. Perante isto, apenas se pode extrair
uma conclusão: a dívida pública portuguesa não é sustentável. É, hoje, claro para a maioria dos portugueses
que o programa de falência económica e social, assente no pacto de agressão assinado pelo PS, PSD e CDS
com a troica estrangeira, não só é contrário aos interesses de desenvolvimento e progresso do País, como
nem sequer garante a concretização dos objetivos que servem de pretexto para quem o aplica e defende: o
equilíbrio das contas públicas, a redução do défice e da dívida pública.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Em abril de 2011, o PCP foi pioneiro na apresentação da proposta de
renegociação urgente da dívida pública, nos juros, prazos e montantes. Na altura, fomos acusados por muitos
de defender propostas irrealistas, de defender soluções que atirariam o País para o abismo. Passados mais de
dois anos, amplos setores da sociedade portuguesa, mesmo aqueles insuspeitos de qualquer simpatia pelo
PCP, reconhecem a justeza da nossa proposta e defendem uma renegociação da dívida que alivie o País do
fardo insuportável dos juros que, em 2014, atingirão mais de 7300 milhões de euros.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Bem lembrado!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Recentemente, durante a discussão do Orçamento do Estado, propusemos um
regime de renegociação da dívida pública que, assumindo o pagamento da dívida legítima e considerando a
necessidade de alargamento dos prazos de pagamento, estabelecesse como limite para o pagamento de
juros, em 2014, um montante máximo correspondente a 2,5% do valor das exportações de bens e serviços, ao
mesmo tempo que se garantia a plena salvaguarda da parte da dívida correspondente aos pequenos
aforradores e daquela que está na posse do setor público administrativo e empresarial do Estado. Esta
proposta foi recusada pelos partidos do Governo, mas também pelo PS, pois uns e outros não têm a coragem
de enfrentar e de afrontar os interesses dos banqueiros, especuladores e agiotas,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — … que vêm na apropriação da riqueza nacional, por via do pagamento dos juros
da dívida pública, uma fonte inesgotável de rendimento.
O Sr. António Filipe (PCP): — Essa é que é essa!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Tal como o PCP sempre afirmou, a consolidação das contas públicas e a
redução da dívida pública não passam por uma política assente na transferência dos recursos nacionais para
a especulação e para o sistema financeiro, na concentração da riqueza à custa do roubo dos salários, pensões
e reformas, na eliminação de direitos laborais e sociais, na manutenção de um elevado nível de desemprego
com o objetivo de facilitar e agravar a exploração dos trabalhadores, na destruição dos serviços públicos e no
empobrecimento generalizado do povo português.