5 DE DEZEMBRO DE 2013
47
causa é simples: o FITEI não conseguiu apresentar uma candidatura suficientemente coesa para que, avaliada
de acordo com os critérios claros e objetivos do júri, o seu financiamento fosse aprovado.
Por tudo isto, afirmamos que o projeto do Partido Ecologista «Os Verdes», que agora discutimos, passa
completamente ao lado do que interessa. Todos conhecemos o historial do FITEI e todos reconhecemos a sua
importância no contexto cultural das artes teatrais, mas não são apenas os méritos do passado que fazem
parte da avaliação das candidaturas para o financiamento futuro. E, à falta de argumentos válidos do FITEI
para a defesa da sua candidatura, esse financiamento não lhe foi concedido.
Apesar disso, Os Verdes exigem no seu projeto que se abra uma exceção para o FITEI, ou seja, quer que
o Estado financie o FITEI, apesar de a sua candidatura ter sido rejeitada. Mas fazer isso seria aceitar que as
leis se aplicam a uns e não a outros, que há concursos para uns, mas para outros «dá-se um jeitinho».
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Não é nada disso que está no projeto!
A Sr.ª Inês Teotónio Pereira (CDS-PP): — Não é, digamos com frontalidade, um exercício sério e nunca
os Deputados deste grupo parlamentar poderiam concordar com isto.
Em relação aos restantes projetos, que pedem a abertura de um concurso extraordinário para o
financiamento das artes onde se incluiria o FITEI, a nossa discordância mantém-se. Primeiro, porque o
problema do FITEI não foi orçamental, mas de insuficiência da sua candidatura; e segundo, porque, no quadro
de contenção orçamental, não podíamos alinhar com propostas irrealistas para as quais não há dinheiro, como
todos sabem.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Diga isso a sério!
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Inês de
Medeiros.
A Sr.ª Inês de Medeiros (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Deputados: Sejamos realistas! A realidade é que há
qualquer coisa quase de penoso, sempre que se houve falar de cultura nesta Câmara. Em termos de política
cultural deste Governo, seja ao nível do financiamento, seja ao nível da estratégia, seja ao nível das medidas
estruturantes anunciadas e nunca concretizadas, a palavra certa a usar é vacuidade. Zero! Estamos perante
um zero absoluto! Não existe!
Em contrapartida, ouvimos sempre declarações transbordantes de emoção e de solidariedade para com o
setor cultural — esta nova expressão para designar cultura no «economês», agora não se fala de cultura não é
suficientemente evocativa de eventuais receitas, portanto, fala-se do setor cultural por parte da maioria —, que
são tão comoventes quanto igualmente vazias, porque não se traduzem nunca, mas nunca, seja no
Orçamento seja ao nível da Comissão, de medidas, de leis, nunca se traduzem em qualquer melhoria
concreta.
Vozes do PS: — Muito bem!
A Sr.ª Inês de Medeiros (PS): — Zero! Absolutamente, zero!
Aliás, a maioria gosta de relembrar que a cultura é o que faz do homem outra coisa que um acidente, para
tentar justificar o próprio acidente que é o seu Governo, mas esquece-se — e quero citar um poeta satírico do
século I a.C., que dizia «Saber não é saber. Se mais ninguém sabe, o que sabemos?!»…
Ora, a política cultural de um governo é isso mesmo: permitir que todos possam partilhar um saber.
Portanto, é isto que está em causa.
Em termos orçamentais, o orçamento relativo à cultura já não existe. Não estamos a falar de um doente em
estado grave, estamos a dizer que o setor cultural é um «doente» em estado grave a quem estamos a racionar
o soro, ou seja, três gotinhas por hora, que é para ver se ainda se vai aguentando!… A realidade é esta.