20 DE DEZEMBRO DE 2013
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O Sr. Jorge Machado (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo e Srs. Deputados, é global a
ofensiva contra as funções sociais e os serviços públicos: na saúde, na educação, na segurança social, na
cultura, nos serviços de finanças e nos CTT, na justiça, nas acessibilidades e mobilidade, nas comunicações,
nos serviços de água e resíduos ou nos serviços de apoio à agricultura e mar. Até ao nível do poder local
democrático, desrespeitando a sua autonomia e extinguindo freguesias, o Governo procura condicionar a
prestação de serviços públicos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — O desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde materializa-se no
desinvestimento, na carência de profissionais de saúde e na degradação da sua situação laboral, na
transferência dos custos da saúde para os utentes e na entrega de mais setores da saúde aos grupos
privados.
Encerram-se serviços e valências e reduzem-se horários de funcionamento, por critérios exclusivamente
economicistas. Sem profissionais de saúde motivados e integrados em carreiras com vínculos públicos, não há
Serviço Nacional de Saúde.
O aumento brutal das taxas moderadoras impede os utentes de aceder aos cuidados de saúde, assim
como a não atribuição de transporte de doentes não urgentes. Há cada vez mais pessoas que adiam
consultas, exames ou tratamentos e não compram medicamentos por não poderem suportar os custos.
Ao mesmo tempo que o Governo degrada os serviços públicos de saúde, oferece aos privados mais
oportunidades de negócio, de que são exemplo, as USF (unidades de saúde familiar) tipo C ou a entrega de
hospitais às misericórdias e aos grupos económicos e financeiros.
Para o capital só interessa assegurar aos pobres um pacote mínimo de serviços, deixando os cuidados de
saúde de ser prestados em função da necessidade de cada utente, mas, sim, segundo o seu rendimento ou
origem social.
Na educação, a destruição da escola pública avança todos os dias com o aumento do número de alunos
por turma, com o despedimento de milhares de professores, com o empobrecimento do currículo, com a
gestão menos democrática, com a constituição de mega-agrupamentos, com a falta de auxiliares de ação
educativa, com a constante falta de material pedagógico, com a redução dos meios no ensino especial, com a
não constituição de equipas multidisciplinares e uma ação social escolar ineficaz. E é cada vez mais difícil
para uma família suportar os elevados custos para ter um filho a estudar.
A imposição da prova de ingresso a milhares de professores contratados é exemplo da política de
humilhação destes trabalhadores e tem a intenção clara de impedir milhares de professores de exercerem a
sua profissão, atirando-os para o desemprego.
A implementação do ensino vocacional e dos cursos profissionais tem como objetivo seriar, desde muito
cedo, quem prossegue estudos e quem aprende um ofício, segundo as suas condições socioeconómicas.
O ensino superior está mais elitizado. O elevado custo das propinas, alojamento, alimentação, material
escolar e deslocação, associado à redução do número de bolsas atribuídas, leva ao abandono dos estudos
por muitos estudantes devido a dificuldades económicas.
A igualdade de oportunidades no acesso e sucesso escolar e a eliminação das desigualdades sociais e
económicas, como determina a nossa Constituição, é cada vez mais uma miragem.
O abandono da cultura integral do indivíduo não ocorre por acaso, antes corresponde a uma conceção dos
setores mais conservadores para impedir a emancipação dos trabalhadores e para condicionar a sua
intervenção cívica.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Não interessa desenvolver o pensamento crítico; o que interessa é
promover o conformismo para a perpetuação do sistema capitalista.