I SÉRIE — NÚMERO 37
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De facto, é uma questão complexa, é uma questão que mobiliza a sociedade, e a sociedade tem-se
mobilizado. Tem-se mobilizado com artigos de opinião, com debates; tem-se mobilizado nas universidades;
mobilizou-se para nos trazer elementos a esta Câmara.
Mas, sendo uma questão mobilizadora, é também uma questão complexa, uma questão que carece da
qualidade que o trabalho parlamentar introduz. E, de facto, se tenho orgulho da minha vida é o de ser
Deputado e de ter tido oportunidade de subscrever este projeto e de o votar favoravelmente. É desrespeitar
aqueles que o fizeram, é desrespeitar aqueles que votaram neste processo e é desrespeitar aqueles que têm
expectativa virmos agora dizer: «Não, não, sequestramos o vosso procedimento. Sequestramos o curso
normal da democracia e transformamo-lo numa farsa para esconder os problemas que enfrentamos na
governação do País»!
Aplausos do PS, do BE e de Os Verdes.
Mas há mais, Sr.as
e Srs. Deputados: há um quadro em que temos de ter em conta matérias como esta, em
que temos, efetivamente, de proteger aqueles que carecem do apoio da ordem jurídica, aqueles que,
minoritários, precisam que o Direito e os direitos fundamentais assegurem a igualdade. É para isso que cá
estamos e foi com este espírito que nós, mas não só nós, não só uma câmara parlamentar, também um
tribunal, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, sublinhamos que é matéria em que se exige uma
intervenção legislativa.
Portanto, pergunto: que caminho é este que quer colocar a nossa vinculação a uma convenção
internacional e aos seus efeitos no plano de uma decisão referendária? Queremos desvirtuar a nossa adesão
à proteção dos direitos fundamentais? É isso que quer colocar em cima da mesa?
Porque a ilegalidade do que nos apresenta com esta proposta não assenta apenas no facto de ter
inventado uma pergunta que nem sequer lá podia estar; não assenta apenas no facto de, na confusão e no
joelho em cima do qual a escreveu, ter esquecido e ter proposto mil e uma tropelias para tentar agendá-lo
numa data que não era possível.
De tudo um pouco ouvimos, até o desplante de dizer que estaria disponível para apresentar uma proposta,
que está em falta, para colmatar a lacuna e a ilegalidade evidente e flagrante da proposta, mostrando, acima
de tudo, que está a brincar com coisas sérias. Que está a brincar com famílias; que está a brincar com a vida
das crianças e que está a brincar, precisamente, com aquilo que diz querer respeitar.
Aplausos do PS, do BE e de Os Verdes.
Terminava, sublinhando que aquilo que aparentemente o preocupa, o superior interesse da criança, está
hoje definido na lei e consta do projeto como sendo fundamental, essencial, para que seja decretada a
coadoção.
Protestos do PSD.
Portanto, o interesse superior da criança está definido. A não ser que queira fazer um referendo para cada
coadoção, não há forma adicional de o fazer senão respeitando o procedimento parlamentar.
Aplausos do PS, do BE e de Deputados do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Cecília
Honório.
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
Deputadas e Srs. Deputados: Comecemos pelo
essencial — os direitos fundamentais não são alvo de referendo, não há outra posição sobre esta matéria.
Direitos fundamentais não se referendam, e é o que aqui discutimos hoje.
Aplausos do BE e de Deputados do PS.