I SÉRIE — NÚMERO 47
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A contribuição para o audiovisual é mais transparente e estável, sendo fixada numa base plurianual. Não
permite fechar ou abrir numa base anual e de forma opaca o financiamento da empresa. Retira, assim, a
possibilidade de o financiamento da RTP funcionar como um instrumento de governamentalização da
empresa.
A mudança de modelo de financiamento é um dos pilares da reforma do setor, que tem na independência
do serviço público o seu motivo essencial.
O outro pilar é o modelo de governo da empresa, que os estatutos que hoje aqui debatemos visam instituir.
Ao conferirmos a um conselho geral independente a competência para escolher e fiscalizar as futuras
administrações da RTP, transferimos para um órgão independente responsabilidades que pertenciam ao
Governo e geravam riscos ou suspeitas de interferência, doravante vedadas.
A independência deste conselho geral é assegurada através dos critérios de seleção dos seus membros,
do seu modo de indigitação e das diferentes instituições que nele participam e das condições de exercício das
suas funções. Estou certo de que a composição e o funcionamento deste conselho geral confirmarão, na
prática, isto mesmo.
Ao Governo compete identificar as prioridades de atuação estratégica no contrato de concessão.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Demita-se o Governo!
O Sr. Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional: — O Governo retém ainda a supervisão
financeira, para o conselho geral independente passam as demais atribuições do Estado.
O interesse do Estado não tem sempre de ser garantido através de órgãos governamentais. E se
entendermos que os interesses do Estado têm de ser os da sociedade no seu todo, então a arquitetura
institucional que limita as prerrogativas do Governo e favorece a independência do serviço público de rádio e
televisão é a que melhor serve esses interesses e aquela que a Constituição, aliás, impõe.
É a eliminação da suspeita política que tem pairado sobre a RTP ao longo de décadas que temos em
mente ao propor a presente reforma do seu modelo de governo. Foi também isso que tivemos em mente ao
alterar o modelo de financiamento do serviço público de rádio e televisão.
Esta simples suspeita, ainda que não se concretize, afeta o bom funcionamento da empresa e a sua
credibilidade perante os portugueses. Transforma todos os debates sobre a empresa em debates políticos,
dificulta uma gestão eficiente da empresa, na medida em que a própria administração é vítima dessa suspeita,
e impede uma supervisão eficaz, porque a fronteira entre o que constitui uma supervisão necessária ou uma
interferência política é extremamente difícil de estabelecer e será sempre profundamente contestada.
Tem-se discutido, frequentemente, o serviço público de rádio e televisão. Tem-se mudado muito e muitas
vezes, mas nunca o essencial. É tempo de o fazer.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional: — Em última análise, na melhoria do serviço
público de rádio e televisão, ao longo dos eixos que tentei sumariamente expor, o que está em causa é o
reforço da qualidade da nossa democracia.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, as inscrições para pedidos de esclarecimento estão ainda a ser
feitas. Pedia aos grupos parlamentares o favor de serem mais rápidos a fazer as inscrições, para não criarmos
estes tempos de demora.
Pausa.
Sr. Ministro, estão inscritos, para pedir esclarecimentos, quatro Srs. Deputados, a saber: Pedro Morais
Soares, do CDS-PP, Carla Cruz, do PCP, Cecília Honório, do Bloco de Esquerda, e Pedro Delgado Alves, do
PS.