20 DE FEVEREIRO DE 2014
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competitividade e o da redução de assimetrias. Infelizmente, um discurso é praticado mesmo antes de ser
anunciado, o da austeridade, enquanto o discurso do desenvolvimento não temos nenhuma garantia de que
venha a ser de facto aplicado, exceto, claro, se os portugueses, entretanto, escolherem em tempo útil um novo
rumo e uma nova maioria.
Vozes do PS: — Muito bem!
O Sr. Carlos Zorrinho (PS): — Portugal definiu um objetivo claro ao desenhar o programa Portugal 2020: o
de eliminar neste horizonte de tempo, até 2020, o gap geracional, ou seja, o diferencial com que as novas
gerações de portugueses enfrentam o mercado e a economia global. Diferencial de qualificações, de
oportunidades de emprego, de não abandono do percurso escolar, de aposta na inovação, de redução da
pobreza… Em síntese, eliminar o diferencial inaceitável de condições para termos uma vida digna e para
combatermos as desigualdades.
No acordo de parceria, o Governo retoma estas metas. Reconhecemos que o documento base tem
virtualidades e até acredito que o Sr. Ministro Poiares Maduro esteja de boa-fé. Mas interrogo-me — aliás,
julgo que todos os portugueses neste momento se interrogam — no seguinte sentido: teria estado Maria Luís
Albuquerque no Conselho de Ministros que aprovou este documento? E esteve lá Pedro Passos Coelho? E
esteve lá Nuno Crato?
É que, Srs. Deputados, nós queremos chegar a 3% de investigação e desenvolvimento no PIB em 2020,
mas, entretanto, cortamos na ciência, nos centros de conhecimento. Que sentido é que isso faz?
Queremos reduzir o abandono escolar, mas, entretanto, aumentamos o número de alunos nas turmas,
retiramos autonomia às escolas e condições de trabalho aos alunos e professores.
Queremos reduzir a pobreza, mas não se mexe no salário mínimo e canibalizam-se as reformas e os
salários.
O Sr. Alberto Martins (PS): — Muito bem!
O Sr. Carlos Zorrinho (PS): — Queremos 75% de ativos com emprego, mas, até agora, «política ativa»
nesse sentido tem sido apenas o apelo à emigração dos jovens.
Queremos liderar nas políticas energéticas limpas, mas corta-se na microgeração e não há incentivos para
as tecnologias emergentes.
Queremos mais jovens licenciados, mas tiram-se meios às famílias para que isso possa acontecer.
Queremos melhorar a competitividade, mas decidem-se os investimentos de valor acrescentado sem que
haja qualquer desígnio estratégico nem visão integradora.
Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: O povo, nestes casos, costuma dizer
simplesmente que «não bate a bota com a perdigota».
Este debate mostra a profunda debilidade de um Governo dividido, um Governo sem ambição e sem ânimo
para aproveitar o quadro financeiro de que o nosso País vai dispor.
Por isso, reafirmamos: o Partido Socialista não volta as costas aos portugueses, mas seremos rigorosos e
exigentes. Com sentido patriótico, não permitiremos que o Governo desperdice esta oportunidade.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Em nome do Grupo Parlamentar do PSD, tem a palavra o Sr.
Deputado Luís Menezes.
O Sr. Luís Menezes (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: O debate que foi suscitado pelo PSD
e pelo CDS-PP refere-se ao acordo de parcerias, mas a intervenção do Deputado Carlos Zorrinho não mostrou
nada disso. O que vimos foi um PS mais preocupado com a política do dia a dia do que com um documento
central para o futuro do País nos próximos anos.
No meio da sua intervenção, o Deputado Carlos Zorrinho deixou fugir a boca para a verdade quando disse
que o programa de ajustamento estava mal dimensionado. É verdade, Sr. Deputado — o bom filho,