28 DE FEVEREIRO DE 2014
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Se são importantes as exportações — não o negamos — não pode o Governo ignorar que são
conseguidas à custa da diminuição do mercado interno por força da falta de poder de compra dos
portugueses. As empresas não conseguem vender cá dentro, vendem para fora. As que não conseguem
fecham portas, despedem trabalhadores. A própria troica estrangeira afirma que o equilíbrio da balança
comercial de Portugal é precário e não estrutural. Mas, apesar de reconhecer isso, ontem mesmo afirmou — o
que é para nós, PCP, inaceitável — que a solução para Portugal não é produzir mais, é consumir menos! É
este o corolário da política de esbulho e de afundamento nacional.
O Governo esconde a estratégia que nos bastidores vai concretizando com a troica. Enquanto na praça
pública agita bandeiras do sucesso, de milagre e de recuperação e ensaia discordâncias em matéria de
salários, nos bastidores entrega de bandeja esses salários, assume a permanência de medidas que tinham
sido apresentadas como temporárias e mostra-se disponível para ir ainda mais longe.
A mentira e a propaganda — agora revestidas de um tom triunfalista delirante que se intensifica à medida
que se aproximam as eleições para o Parlamento Europeu — são os expedientes do Governo para mascarar
os reais impactos e efeitos da sua política.
Todos os números são pretexto para um discurso de fantasia com a intenção de nos fazer crer que o pior já
passou, que o empobrecimento disfarçado de austeridade terá gerado, em Portugal, um autêntico milagre
económico. Desde os frágeis indicadores sobre as variações no desempenho económico do País até aos
números da execução orçamental de um só mês, como fez ontem o Governo, tudo serve para atirar areia para
os nossos olhos.
Mas o Governo não se limita a amplificar o real significado de indicadores positivos; chega mesmo a
distorcer e a tornar positivos indicadores que mais não são senão o resultado da política de espoliação. Veja-
se a desfaçatez com que o Governo anuncia com alarido o resultado da execução orçamental e o aumento de
10% na receita fiscal arrecadada. Apresenta-o como indicador de retoma económica, esquecendo ou fingindo
esquecer que esse aumento resulta essencialmente do brutal assalto aos trabalhadores, através do aumento
de mais de 31% do IRS. Ou seja, não só não é um indicador de retoma, como é sinal de mais recursos
subtraídos à economia, retidos no Estado para pagar a agiotagem e os juros.
O que mostram os indicadores económicos é um País a definhar, um Estado que esbulha, numa espécie
de cobrança em nome de terceiros, espoliando os trabalhadores do seu rendimento para o entregar «de mão
beijada» aos grandes grupos económicos, aos monopólios e à banca.
Ao mesmo tempo, o Governo esconde que o imposto sobre produtos petrolíferos, indicador avançado, cai
significativamente, como caem também as contribuições para a segurança social. Ao regozijar-se com estes
números, o Governo regozija-se com o assalto aos rendimentos dos portugueses.
Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, a política do Governo PSD/CDS, executor do pacto de agressão
concebido pelo PS, não só não resolve e agrava os principais problemas com que o País está confrontado,
como destrói ativamente a nossa capacidade para sair da crise gerada pela política de direita.
Se o crescimento económico é acompanhado apenas do enriquecimento dos mais ricos e do
empobrecimento da generalidade dos trabalhadores isso significa que os trabalhadores ficam com uma fatia
cada vez mais pequena de uma riqueza que é ligeiramente maior, mas que são os próprios trabalhadores que
produzem.
E enquanto os jovens, forçados a emigrar, não puderem regressar ao seu País, enquanto os idosos
continuarem sozinhos e doentes, os trabalhadores no desemprego ou em empregos precários e mal pagos,
enquanto a arte e a cultura forem desprezadas, enquanto não forem devolvidos os salários e os subsídios
roubados, enquanto as escolas fechadas não reabrirem e os professores despedidos não voltarem ao
trabalho, as esquadras, os tribunais e as finanças continuarem a encerrar, não se pode dizer que a economia
está melhor.
O País não está melhor porque o País são as pessoas que aqui vivem e trabalham. O País da opulência
obscena, dos lucros, da banca, da economia de casino pode ser a pátria dos ministros da República, mas não
é a dos portugueses que vivem do seu trabalho.
A democracia portuguesa foi sequestrada pela troica doméstica e pela troica estrangeira e os partidos da
troica legitimam as políticas de assalto e de abdicação do interesse nacional. Mas a fantasia, a mentira e a
propaganda do Governo não apagam a situação real com que as pessoas se deparam no seu dia a dia, nas
suas vidas, e muito menos apagam a revolta que cresce em cada português, contra a política de direita que