28 DE FEVEREIRO DE 2014
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Começo por destacar dois dos seus princípios. Primeiro: o primado da paz, da democracia, do Estado de
direito, da boa governação, dos direitos humanos e da justiça social. Segundo: o de estimular a cooperação
entre os seus membros com o objetivo de promover as práticas democráticas, a boa governação e o respeito
pelos direitos humanos. A estes princípios junta-se a promoção e a difusão da língua portuguesa.
Os povos dos países que integram a CPLP acompanham a sua atividade no contexto mundial enquanto
organização com um papel na diplomacia internacional que se credibiliza ao defender e sustentar práticas
democráticas ou quando promove a cooperação multilateral para o desenvolvimento.
Não podemos, pois, ficar indiferentes à decisão da cimeira extraordinária dos Ministros dos Negócios
Estrangeiros, realizada em Maputo, no passado dia 20, que recomendou à cimeira dos Chefes de Estado, que
se realizará em Timor no próximo mês de julho, a aceitação da adesão da Guiné Equatorial à CPLP.
Quais são as verdadeiras razões que levam a esta decisão? É a pergunta que tem de ter resposta.
A Guiné Equatorial é um país governado por um ditador, Teodoro Obiang. Falamos de um país com pena
de morte e de um país, como denuncia uma ONG (organização não governamental) portuguesa — e passo a
citar —, «onde há prisões arbitrárias, julgamentos sumários, perseguições».
Sr.as
e Srs. Deputados, mas falemos da pena de morte. Em 2010 — repito, em 2010 —, foi estabelecido um
roteiro com a Guiné Equatorial com vista à sua entrada na CPLP. Foi exigida uma moratória sobre a pena de
morte, que seria um pequeno primeiro passo para a sua abolição. Mas só agora, em vésperas da cimeira dos
Ministros dos Negócios Estrangeiros, foi declarada esta moratória, que tem tudo a dever à dissimulação e
nada a uma verdadeira vontade de abolir a pena de morte.
O mesmo acontece em relação ao segundo ponto do dito roteiro: a língua portuguesa. É o próprio Ministro
dos Negócios Estrangeiros da Guiné Equatorial que assume que a língua portuguesa será inscrita na
Constituição como o seu terceiro idioma, depois do espanhol e do francês. Perante este quadro, repito a
pergunta: quais são as verdadeiras razões para se aceitar a adesão de uma ditadura à CPLP? A resposta,
Sr.as
e Srs. Deputados, é dolorosamente simples: petróleo, negócios.
Sim, a Guiné Equatorial é o terceiro produtor de petróleo e gás do continente africano, mas o seu povo vive
na mais absoluta das misérias, ao mesmo tempo que uma elite enriquece e se dedica a negócios corruptos,
investigados em diversos países, desde a França aos Estados Unidos, com sentenças proferidas para a
apreensão de bens de luxo e condenações pelo crime de apropriação indevida de bens públicos.
O povo da Guiné Equatorial está na miséria: 70% da população está muito abaixo do limiar da pobreza,
contrastando com o enriquecimento despudorado de uma elite. É este o retrato — dramático, mas real.
Ficámos a saber que uma empresa estatal da Guiné Equatorial vai injetar 133 milhões de euros no Banif, o
banco dirigido por Luís Amado e intervencionado pelo Estado português. O Banif precisa deste capital, não lhe
importa a sua origem, quer recapitalizar-se. O regime ditatorial de Obiang precisa da CPLP para lavar a sua
imagem no plano internacional; tudo o resto — princípios, direitos humanos, credibilidade de uma organização
internacional — como e onde ficam, Sr.as
e Srs. Deputados?
Não endeusamos a CPLP, nem alimentamos ilusões num irreal carácter imaculado da organização;
sabemos que assim o não é! Mas não desistimos de preservar a identidade deste espaço particular e do seu
papel na conjuntura internacional, que só terá a ganhar ao colocar-se do lado da democracia e da defesa
intransigente dos direitos humanos.
O Ministro Rui Machete, na Comissão de Negócios Estrangeiros, assumiu uma posição contrária à adesão.
Mas mudou de posição e, no final da Cimeira, veio dizer, e passo a citar, que «Portugal se sente à vontade
com a decisão». O Governo claudicou perante a força dos interesses económicos.
Daqui até à Cimeira de Chefes de Estado da CPLP, muitas vozes se levantarão contra esta decisão.
Portugal pode e deve exercer o seu direito de veto, em nome da história dos povos, da lusofonia e dos
direitos humanos.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, os Srs. Deputados António Rodrigues,
do PSD, e António Braga, do PS.
Antes de dar a palavra ao Sr. Deputado António Rodrigues, informo que a Sr.ª Deputada Helena Pinto
pretende responder individualmente a cada pedido de esclarecimento.