I SÉRIE — NÚMERO 54
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liberdade e à democracia e na defesa dos direitos humanos. Creio que todos nós, democratas, temos de nos
congratular quando isso é conseguido.
Porém, a questão que se coloca é justamente porque o Governo tem mantido um absoluto secretismo
sobre o processo que tem desenvolvido no contexto da CPLP. Ninguém conhece como é que está a situação.
Sabemos ou não se foi avaliado o cumprimento criterioso do roteiro para a integração? Independentemente da
moratória ou da amnistia que é anunciada a dois ou três dias da Cimeira de ministros, sabemos ou não se ela
corresponde ao quadro jurídico interno, mesmo que este seja mitigado no que respeita ao Estado de direito
democrático? É, sobretudo, aqui, Sr.ª Deputada, que eu acho que a oportunidade desta intervenção nos
permite salientar.
Assim, creio que o Governo tem de explicar à Assembleia da República e, obviamente, ao povo português
qual é a natureza, qual é a razão daquela decisão, em função destes critérios.
Naturalmente que, na próxima cimeira, acompanharemos não apenas o desenvolvimento da posição do
Governo português como fiscalizaremos em absoluto os critérios que estão definidos, porque a valorização da
CPLP tem de se fazer de acordo com os valores que levaram à sua criação e esses valores assentam, como a
Sr.ª Deputada bem referiu, na defesa dos direitos humanos, na liberdade, na democracia e no Estado de
direito democrático.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Helena Pinto.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado António Braga, quero agradecer as suas
questões e ter participado neste debate.
Gostava de começar por dizer que lamento que este debate não seja mais alargado na Assembleia da
República, que não se vá ao fundo destas matérias e que todos não assumam uma posição perante um
assunto desta dimensão.
O Sr. Deputado António Braga falou da necessidade, porventura, do alargamento da CPLP no sentido da
sua influência geoestratégica. Acompanhamos essa ideia, com certeza, não temos nenhuma visão imobilista
sobre a CPLP no sentido de que está limitada para todo o seu sempre. Mas aí está uma escolha, porque, se a
CPLP quer ter alguma influência geoestratégica, se quer ter alguma influência internacional e na diplomacia
internacional, tem de ser clara sobre de que lado é que está. E eu acho que esta decisão da CPLP no sentido
de se abrir a uma ditadura com as características da ditadura da Guiné Equatorial não abona em favor do
papel geoestratégico desta organização que todos acarinhamos; vem exatamente em sentido contrário.
É um péssimo sinal dado ao mundo abrir uma organização a uma ditadura sangrenta e é um péssimo sinal
dado ao mundo quando dizemos que abdicamos dos nossos princípios e dos nossos valores em nome dos
negócios e do petróleo e quando favorecemos um regime altamente corrupto. Não podemos ter dois pesos e
duas medidas, não podemos, por um lado, criticar os regimes, criticar as atitudes dos governos e, por outro
lado, abrir-lhes a porta para que entrem para a CPLP, neste caso concreto.
Permita-me que termine com uma apreciação sobre o papel do Governo e, no caso concreto, do Ministro
dos Negócios Estrangeiros.
Sr. Deputado, o Ministro dos Negócios Estrangeiros não disse que não obstaculizava. Ele disse que a
posição de Portugal era claramente negativa — aliás, vem em todos os jornais, Sr. Deputado António
Rodrigues. O Ministro dos Negócios Estrangeiros, na Comissão, disse que a posição de Portugal era
claramente negativa à entrada da Guiné Equatorial para a CPLP e à saída da Cimeira disse que Portugal está
confortável com a posição. O que é que aqui existiu, entretanto? Quais foram as razões? Infelizmente, elas
estão a saltar à vista de todos: o Governo, em nome de Portugal, claudicou completamente nesta questão em
nome dos negócios do petróleo. Isso é inadmissível, isso envergonha a nossa democracia e até junho muita
água vai correr debaixo das pontes, muitas vozes se vão levantar contra esta adesão.
Espero bem que seja possível discutir este tema e reverter esta situação, porque Portugal tem direito de
veto e não deve abdicar de o exercer.
Aplausos do BE.