I SÉRIE — NÚMERO 55
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A Sr.ª Presidente: — Pelo CDS-PP, tem a palavra o Sr. Deputado Telmo Correia para uma intervenção.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A verdade é que de cada vez
que o País é confrontado com um acontecimento mais ou menos trágico ligado direta ou indiretamente, como
aconteceu recentemente, aos rituais académicos, aos rituais de integração e à própria praxe, a questão volta a
estar na ordem do dia e o debate sobre esta matéria ressurge na opinião pública.
Sobre este assunto, gostaria de dizer que a sensibilidade de cada um de nós nesta Câmara e,
eventualmente, até em cada uma das bancadas ou, pelo menos, em algumas das bancadas difere um pouco
da experiência de ligação a uma determinada academia que cada um daqueles que frequentou a universidade
teve ao longo da sua vida.
Desse ponto de vista, gostaria de dizer duas ou três coisas que serão tão claras quanto eu consiga.
A primeira é a de que respeitamos a tradição académica, respeitamos as antigas tradições académicas,
designadamente onde elas existem e são efetivamente tradição — estou a pensar, por exemplo, na Academia
de Coimbra —, respeitamos a liberdade dos estudantes de se organizarem e de terem as suas festividades,
mas, do nosso ponto de vista, não é aceitável qualquer prática que possa ter um caráter humilhante, que
possa ter um caráter degradante ou que possa constituir até um risco para qualquer estudante universitário.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Isso não é, do nosso ponto de vista, aceitável.
Nesse sentido, estão hoje em cima da mesa dois projetos: o projeto do Bloco de Esquerda, que propõe,
entre outras coisas, informação, recomendação formal, envolvimento das escolas, criação de uma nova rede
— sobre esta última proposta, tenho mais dúvidas —, e o projeto da maioria, que tem como objetivo a
sensibilização, a participação das escolas e das universidades.
São iniciativas que em geral, tirando um ou outro ponto, merecem a nossa concordância, merecem a minha
concordância. Falando a título quase pessoal, diria que são passos no sentido certo, mas são passos tímidos.
A questão da praxe e das praxes violentas não é tão antiga como o mundo mas, seguramente, é, pelo
menos, tão antiga como a universidade. A primeira vez que ela foi proibida foi em 1342 na Universidade de
Paris, já com os mesmos argumentos: de humilhação dos mais novos, de humilhação dos mais inexperientes,
de uso de ritos de autoridade e de disciplina inaceitáveis. Há, em vários países, legislação sobre esta matéria.
Diria, pois, que estes são passos importantes, mas, ainda assim, são passos tímidos.
Enquanto Deputado, deixo um desafio às várias bancadas, a toda a Câmara e à opinião pública: o único
passo decisivo é quando tivermos a coragem de, em primeiro lugar, garantir que ninguém terá de participar
numa praxe, se essa não for a sua vontade.
Vozes do CDS-PP e do PSD: — Muito bem!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Nenhum estudante, nenhum aluno, pode ser obrigado a participar numa
praxe, se essa não for a sua vontade.
Em segundo lugar, independentemente da vontade ou do consentimento, não é aceitável nenhuma prática
que tenha natureza degradante, que tenha natureza humilhante, que tenha natureza sexista. Essas terão de
ser, no futuro, erradicadas da sociedade portuguesa, porque não são aceitáveis.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente: — Por Os Verdes, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia para uma
intervenção.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Infelizmente, tem-se
vindo a falar muito da questão das praxes por razões que todos conhecemos, ou seja, por razões tristes, muito
tristes.