I SÉRIE — NÚMERO 65
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Dou as boas-vindas ao Sr. Deputado Pedro Jesus Marques.
Srs. Deputados, vamos dar início à ordem do dia de hoje, que tem como primeiro ponto o debate de
atualidade, ao abrigo do artigo 72.º do Regimento da Assembleia da República, sobre o aumento alarmante do
risco de pobreza em Portugal (BE).
Para abrir o debate, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados: «Não
vale a pena fazer demagogia sobre isto, nós sabemos que só vamos sair desta situação empobrecendo».
Estas declarações, proferidas por Pedro Passos Coelho a 25 de outubro de 2011, resumem as políticas
seguidas por PSD e CDS nos últimos três anos. Os resultados, infelizmente, estão à vista.
Embora seja claro que o verdadeiro impacto social das políticas de austeridade só se torna visível
passados alguns anos, todos os indicadores que têm sido publicados nos últimos meses são unânimes: a
pobreza está a aumentar, e está a aumentar não apenas no número de pessoas atingidas mas também na sua
intensidade e persistência. Há cada vez mais pobres e os pobres estão cada vez mais pobres.
Os alertas sobre a situação alarmante de pobreza em Portugal não são de hoje. O relatório da UNICEF
publicado no final de 2013 colocava o nosso País no nada invejável pódio europeu da pobreza e privação
infantil. A OCDE, já em 2014, lembrava que o desemprego aumentou mais do dobro do que na média
europeia, mas, enquanto nos outros países se ampliou o dinheiro para a proteção social, em Portugal ficou
praticamente na mesma.
O retrato mais fiel deste cenário, em que doentes crónicos já são obrigados a escolher que medicamentos
indispensáveis levam e a refeição na escola é a melhor ou, mesmo, a única de que milhares de crianças
dispõem, foi traçado esta semana pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Sr.as
e Srs. Deputados, quase dois milhões de pessoas vivem com menos de 409 € por mês. Três em cada
10 portugueses não tem dinheiro para manter a casa aquecida e dois em cada 10 não tem dinheiro para
comprar uma peça de roupa. A austeridade é uma máquina de fazer pobres e ninguém aumentou tanto a
pobreza como este Governo.
A pobreza severa, que descreve quem já nem consegue cumprir o básico do básico, atinge hoje 1,1
milhões de pessoas, mais 200 000 do que em 2010.
A taxa de pobreza alcança valores desconhecidos há mais de uma década, atingindo hoje quase uma em
cada cinco pessoas, mas, tratando-se de uma percentagem do rendimento médio, que está a descer
acentuadamente, não nos dá conta da violência da situação social que atinge o País.
Por isso mesmo, ao comparar os indicadores de pobreza, ancorada nos valores de 2009, o que o INE nos
diz é que a taxa de pobreza passou de 17,6%, em 2009, para 19,6%, em 2010, 21,3%, em 2011 e 24,7%, em
2012.
Um em cada quatro cidadãos é pobre, há um aumento de 25% em apenas quatro anos. É este, Sr.as
e Srs.
Deputados do PSD e do CDS, o resultado do empobrecimento defendido por Passos Coelho como a solução
para o País.
Estes números e o aumento da pobreza persistente e profunda que eles representam não aparecem por
acaso. São o reflexo e o resultado do zelo demonstrado pelo Governo numa austeridade que sufoca a
economia, diminui salários e aumenta todas as taxas e preços de serviços essenciais, como os transportes, a
energia ou, mesmo, a saúde e a educação.
No contexto em que mais de metade dos desempregados e desempregadas não recebe qualquer subsídio
por não estar empregado, PSD e CDS desceram 30% o valor atribuído ao rendimento social de inserção (RSI).
A campanha ideológica, desde sempre montada pelo CDS contra os apoios aos mais desfavorecidos,
apresentados por Paulo Portas como um estímulo à preguiça, faz os seus frutos. Os mais prejudicados por
estes cortes? As famílias com filhos. Quanto mais filhos, maior a penalização. «Visto família», prometia o
Governo. Ainda estão lembrados?
Até pela pressão política desde sempre feita pelo CDS, o RSI é o dinheiro atribuído pelo Estado mais
fiscalizado e escrutinado. Não há maior falácia do que dizer que os cortes resultam de maior rigor na
atribuição. Resultam de uma escolha ideológica cujos resultados estão à vista: 344 000 desempregados e
desempregadas encontram-se em situação de pobreza.