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I SÉRIE — NÚMERO 65

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em 2012, de 24,7% e, só entre 2011 e 2012, cerca de 350 000 pessoas caíram em situação de pobreza, o que

inclui todos os setores sociais, abrangendo o dos idosos.

O Sr. José Junqueiro (PS): — Uma vergonha!

O Sr. Vieira da Silva (PS): — É um retrocesso social de grande dimensão que atinge principalmente os

desempregados e as famílias com filhos a cargo.

Em segundo lugar, esta informação mostra claramente que se agravaram as desigualdades em Portugal.

Qualquer dúvida que pudesse existir sobre a distribuição dos custos da crise está hoje dissipada: o rendimento

dos 20% mais ricos passou a ser seis vezes superior ao dos 20% mais pobres (era 5,8 vezes). Os 10% que

mais ganham possuem rendimentos 10,7 vezes mais elevados do que os 10% com rendimento mais baixo

(era 10 vezes). Aprofundaram-se, assim, assimetrias que durante anos se vinham reduzindo de forma

consistente e sustentada. Entre 2004 e 2010, a relação 80/20 passou de 7 para 5,6 e já está, novamente, em

6.

Em terceiro lugar, a intensidade da pobreza agrava-se. Os mais pobres estão ainda mais pobres, ou seja,

mais longe do limiar da pobreza e a pobreza mais severa aumenta — 10,9% da população vivia, em 2013, em

privação material severa, mais 2,3% do que no ano anterior.

Aliás, mesmo levando em conta apenas a dimensão monetária, repare-se que é nos mais pobres dos

pobres que a pobreza mais aumenta (com a linha de pobreza a 60% do rendimento mediano, a população

pobre cresce 0,8%, mas com a linha de pobreza a 40%, cresce 1,5%). Dizendo de outra forma, num ano, são

mais 85 000 pessoas que vivem com rendimentos abaixo de 409 €, mas são quase 160 000 as que vivem com

rendimentos abaixo de 272 €.

A estes indicadores monetários e de privação, que apontam para um risco de pobreza e exclusão acima

dos 27% da população, devemos acrescentar as dificuldades crescentes no acesso a serviços públicos de

base.

Estes indicadores são mais do que um alerta, são a confirmação da significativa degradação das condições

de vida e são fruto de um caminho errado: o caminho da austeridade reforçada, o caminho da desvalorização

do trabalho, o caminho dos cortes nas políticas sociais.

Aplausos do PS.

Sr.ª Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: Até hoje, a maioria afirmou vezes e vezes que a austeridade

poupava os mais frágeis, que a distribuição dos sacrifícios era socialmente justa. Ética na austeridade, diziam!

Pois bem, Deputados da maioria, se tinham essa ilusão, decerto que hoje a perderam. Se apenas

pretendiam vender essa ilusão, esqueçam, ninguém mais acredita nela!

Ninguém duvide de que este é o resultado mais dramático da política de austeridade: num País que

empobrece, os pobres são mais e cada vez mais pobres.

Este é o resultado da austeridade redentora, da austeridade reforçada, da austeridade em dobro.

Não por acaso, os resultados agora conhecidos reportam, no essencial, a 2012, o ano em que a arrogância

do Governo fez aplicar em dobro a política da austeridade. Aqui estão os seus resultados sociais!

Este é o resultado da destruição de riqueza e emprego, mas é também o resultado da forma como a direita

sempre hostilizou e estigmatizou as prestações de combate à pobreza.

O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Muito bem!

O Sr. Vieira da Silva (PS): — E não se pense que o pior já passou! Basta recordar como, já em 2013,

continuaram a ser feitos cortes pesados nas prestações sociais de combate à pobreza (menos 52 000 no

rendimento social de inserção, menos 18 000 no complemento solidário para idosos), para termos a certeza de

que este caminho se vai acentuar.

A política de austeridade está a cavar uma fratura na Europa, uma fratura exposta com consequências

dramáticas para o projeto europeu.