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27 DE MARÇO DE 2014

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Ao mesmo tempo que temos um Ministro do CDS, Pedro Mota Soares, sempre pronto para cortar os apoios

a quem perdeu o emprego, encontramos um Secretário de Estado do mesmo CDS, Paulo Núncio, a conceder

benefícios fiscais a grupos económicos, ao arrepio das normas contra a evasão fiscal. A fiscalização, já se

sabe, é só para os pobres, pois quem tem dinheiro não se incomoda com minudências.

Aplausos do BE.

Sr.as

e Srs. Deputados, pese embora todas as palavras bonitas do Primeiro-Ministro sobre a sua

preocupação com a diminuição da taxa de natalidade, o resultado das suas políticas é simples: hoje, em

Portugal, ter filhos é meio caminho andado para a pobreza. É o que acontece a uma em cada três famílias

monoparentais ou a quatro em cada 10 famílias que têm pelo menos três filhos.

E pode bem o CDS querer fazer propaganda com apoio aos idosos ou o aumento das pensões mínimas.

Cortar o complemento solidário para idosos (CSI) é cortar nos idosos que menos têm. Gabar-se de aumentos

de 2 € a quem tem pensões de 200 € e vê o aumento na conta do supermercado é insultar quem vive na

pobreza. E não esquecemos as pensões mínimas de quem contribui 15 e mais anos e tem, hoje, pensões de

274 €, 303 € ou 379 € e que continuam congeladas. Também os idosos vivem, hoje, pior em Portugal, um país

que está mais pobre e mais desigual.

Contrariamente ao que a direita sempre nos foi dizendo, as prestações sociais são fundamentais para a

diminuição das desigualdades e do combate à pobreza. Sem os serviços públicos e as transferências

financeiras do Estado, 40 em cada 100 pessoas seriam pobres.

Sabemos hoje, com números concretos que representam pessoas e vidas reais, que a crise social

provocada pelas medidas de austeridade agravou-se com a legislação restritiva de prestações sociais

implementada a partir de 2010. Há três decretos-leis que são centrais no retrocesso das prestações sociais e

que urge revogar. O que mudou o conceito de agregado familiar, a alteração dos escalões do abono e que

retirou o abono a 500 000 crianças e o que baixa o valor de referência do CSI e as prestações do RSI.

Sr.as

e Srs. Deputados, apelamos hoje, por isso, a todos os partidos empenhados no combate à pobreza

que nos concentremos no mínimo: reverter a rede de apoios sociais à que existia em 2009; comecemos por

revogar os Decretos-Leis n.os

70/2010, 116/2010 e 13/2013. É o mínimo dos mínimos, face à situação social —

à pobreza — que vivemos hoje no nosso País.

Cada dia que passa é tarde demais para quem está em situação de pobreza. É de direitos humanos que

falamos. Não há lugar para «lágrimas de crocodilo».

Aplausos do BE.

A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, fica, assim, aberto o debate de atualidade a que hoje procedemos.

Estão já inscritos, para intervir, os Srs. Deputados Vieira da Silva, do PS, Cecília Meireles, do CDS-PP, Pedro

Roque, do PSD, e Jorge Machado, do PCP. Para já, são estes os Srs. Deputados inscritos.

Tem a palavra o Sr. Deputado Vieira da Silva.

O Sr. Vieira da Silva (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as

e Srs. Deputados: Foram

divulgados na passada segunda-feira os dados do INE sobre rendimento e condições de vida.

A situação social do País que estes dados mostram é uma situação que não pode causar senão uma

enorme preocupação.

Recordemos o essencial dos dados.

Em primeiro lugar, a taxa de pobreza sobe para o seu valor mais alto desde 2005 — passou de 17,9% para

18,7% da população. Quer isto dizer que cresceu o número de pessoas e famílias que vivem abaixo daquele

que é considerado, em termos europeus, o limiar de pobreza e que corresponde, relembro, a 60% do

rendimento mediano no País.

Mas a situação é bem mais séria, já que o rendimento mediano, ele próprio, desceu e, com isso, tornou-se

mais baixo o limiar da pobreza.

Basta calcular, como faz o INE, qual é a taxa de pobreza, tomando como limiar de pobreza o valor que era

considerado em 2009, para percebermos a situação. Se assim fizermos, verificamos que a taxa de pobreza foi,