27 DE MARÇO DE 2014
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impingirem planos de poupança e sabe-se lá que mais aos idosos nas zonas interiores do País que vão
levantar a sua reforma, assumindo-se que se quer que os postos de correios fiquem abertos.
Considera, Sr. Deputado, que a privatização dos CTT é algo mais de radicalismo liberal e tem alguma coisa
a ver com o interesse nacional ou se, pelo contrário, irá pôr em causa o interesse e o bem-estar das
populações deste País?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, começo por registar que sobre uma matéria escandalosa como
é esta, a forma como está a ser tratado o problema dos Certificados de Aforro e de outros instrumentos de
dívida pública através dos Correios, estranhamente não haja uma palavra da parte das bancadas do PSD, do
CDS e do PS.
Quando se fala de dívida pública e de financiamento do Estado, quem defendeu e defende a privatização
dos Correios tem aqui uma boa oportunidade para falar, perdendo, outras vezes, boas oportunidades para
estar calado.
Em relação à pergunta, que agradeço, da Sr.ª Deputada Mariana Mortágua, queria começar por chamar a
atenção para o problema que está colocado, não apenas do ponto de vista do crime económico, que é a
privatização dos Correios, ainda para mais agravado e adensado com esta escandalosa distribuição de
dividendos na ordem dos 61 milhões de euros dos lucros declarados agora, para ações compradas em saldo
no final do ano, e para a valorização das ações que já foi identificada na semana passada, salvo erro, em
44,9% — negócio melhor do que este não há certamente!…
Para além deste problema, há um outro, também seriíssimo, que tem a ver com o financiamento do Estado,
em que esta componente do financiamento e este instrumento da dívida pública, que são os Certificados de
Aforro e os Certificados do Tesouro Poupança Mais, estão agora entregues à concorrência. Ou seja, o
Deutsche Bank e a Goldman Sachs, que estão entre os tais que vão ao BCE comprar dinheiro a 0,5% para
vender ao Estado português a 4% ou a 5%, ou mais, e que estão lá no meio dos tais mercados que dominam
a dívida pública e o nosso financiamento, estão na central de comando da empresa que tem o exclusivo dos
Certificados de Aforro em relação à sua comercialização, fora o IGCP, que tem a sua venda direta.
É, pois, caso para dizer que o instrumento de dívida fundamental para os pequenos aforradores está
entregue, por parte do Estado, à sua própria concorrência.
Isso é altamente preocupante e exige uma resposta cabal por parte do Governo, que tem a tutela e a
responsabilidade de garantir e de gerir as carteiras de títulos que têm a ver com os Certificados de Aforro. Por
isso, se até agora tínhamos razões para nos preocuparmos, mais razões teremos agora para denunciar, para
agir e para lutar em relação ao tal banco postal que está na calha e aos negócios e negociatas que aí estão no
horizonte.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Srs. Deputados, terminámos o período das declarações políticas.
Vamos passar ao ponto seguinte da ordem de trabalhos, que consiste na discussão da petição n.º 319/XII
(3.ª) — Apresentada por Carlos Manuel Cabral da Silva Nunes e outros, solicitando à Assembleia da
República a suspensão da venda das 85 obras de Joan Miró, património do BPN, em conjunto, na
generalidade, com o projeto de lei n.º 513/XII (3.ª) — Determina a inventariação e classificação do espólio de
bens culturais da Parvalorem, da Parups e de outros ativos incluídos no perímetro da nacionalização do BPN
(BE).
Para apresentar o projeto de lei, tem a palavra a Sr.ª Deputada Catarina Martins.
A Sr.ª Catarina Martins (BE): — Sr. Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Começo por cumprimentar os
peticionários, que se envolveram de forma muito ativa na denúncia do que estava a acontecer com a coleção