I SÉRIE — NÚMERO 67
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Sr. Vice-Primeiro-Ministro, não vale a pena vir para aqui com «rodriguinhos». Foi um membro do Governo,
que permanece em funções, que chamou os jornalistas, apresentou as propostas que o Governo está a
preparar para fazer cortes nas pensões e até combinou como é que elas podiam ser divulgadas.
Aplausos do PS.
Não vale a pena vir para aqui com enganos, Sr. Vice-Primeiro-Ministro.
O País não precisa apenas dessa política orçamental. Precisa de uma política económica diferente e de
uma política social e de combate à pobreza, que nunca teve com este Governo. Uma política que perceba a
necessidade de estimular a procura de um modo sustentável, recorrendo aos fundos comunitários para
financiar mais investimento privado, mas também público, que o Governo pôs na «gaveta» e que tirou agora
da «gaveta» a tempo das promessas eleitorais.
O País precisa de apostar na ferrovia, nos portos, na logística, valorizando a posição geoestratégica de
Portugal.
O País precisa utilizar os fundos comunitários para o regresso às qualificações, para apoio às centenas de
milhares de desempregados para quem as qualificações representam a melhor oportunidade na situação
presente.
O País precisa de apostar nos grandes fatores de recuperação do desequilíbrio estrutural, na educação,
mas também no défice energético.
O País precisa de apostar no apoio à procura interna e combater a pobreza entre os trabalhadores, através
do aumento do salário mínimo nacional.
Uma estratégia de política económica alternativa, eis aquilo que aqui refiro.
Aplausos do PS.
O País precisa também de uma política social que nunca teve. Porque os assomos de populismo, de
assistencialismo e de caridade não passam disso mesmo, nunca serão uma verdadeira política social.
O Sr. Luís Menezes (PSD): — E quanto a propostas…
O Sr. Pedro Jesus Marques (PS): — Os resultados publicados nesta semana pelo INE demonstraram com
estrondo a ausência de uma política de combate à pobreza por parte deste Governo.
O País precisa de recuperar a prioridade aos direitos sociais dos mais pobres e dependentes em Portugal,
que este Governo dizimou nos últimos anos.
O Governo já retirou o complemento solidário para idosos aos mais pobres entre os idosos, a mais de 25
000 dos nossos idosos; o complemento por dependência foi retirado a todos os idosos dependentes com mais
de 600 € de pensão (idosos que não conseguem alimentar-se, locomover-se ou fazer a sua higiene
autonomamente); o rendimento social de inserção foi retirado a mais de 100 000 portuguesas e portugueses.
Só de uma vez cortaram 40 € a cada mãe e 40 € a cada criança, E, não satisfeitos, não contentes, logo a
seguir, cortaram outra vez todas estas prestações. E já lá vão 100 000 beneficiários do rendimento social de
inserção que agora têm zero, que estão na pobreza absoluta, na pobreza mais grave.
É por tudo isto que a pobreza não para de aumentar. Como disse o INE, aumentou de modo generalizado,
mas é ainda mais grave entre as famílias com crianças e os desempregados sem nenhum apoio social.
No fim de um processo de ajustamento, que deixou o País em cinzas, em que o ajustamento estrutural
ficou por fazer, saibamos tirar ilações para o futuro e, assim, alterar esta estratégia orçamental de duplicação
obstinada de austeridade, regressar ao combate aos défices estruturais, regressar ao combate à pobreza.
É tempo de dizer «Basta!». Depois de tantos erros na aplicação deste Programa de Ajustamento, é mesmo
preciso mudar!
Aplausos do PS.
Entretanto, assumiu a presidência o Vice-Presidente Ferro Rodrigues.