I SÉRIE — NÚMERO 70
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Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Protestos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado João Semedo.
O Sr. João Semedo (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, então, podemos concluir com toda a
certeza que os cortes nos salários e nas pensões aplicados em 2013 e em 2014 são para continuar. Isso ficou
claro. Todavia, há um outro aspeto importante na sua intervenção: o senhor acabou de dizer que, além disso,
admite ter de ir mais longe.
Queria perguntar-lhe se, quando se refere a cortes noutras despesas, o Governo está a preparar mais
cortes nos serviços públicos, nomeadamente no Serviço Nacional de Saúde, na escola pública, na proteção e
apoio social. Ou seja, apesar de tudo aquilo que está a acontecer aos serviços públicos em Portugal, na saúde
(menos acesso e racionamento de medicações), na escola pública (mais abandono e mais insucesso) e na
proteção social (a multiplicação de pobres, que é, na realidade, o resultado da sua política), o Sr. Primeiro-
Ministro admite e insiste em fazer mais cortes nos serviços públicos, nomeadamente na escola pública, no
Serviço Nacional de Saúde e na proteção social? As suas palavras de há pouco é isso mesmo que significam,
Sr. Primeiro-Ministro, ou seja, que está disponível a ir mais longe para cumprir as regras que a elite europeia
lhe vai impondo.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado João Semedo, em primeiro lugar, o Governo tem
demonstrado à saciedade que não há menos saúde, o que há é menos dívidas na saúde, isso, sim.
O Sr. João Semedo (BE): — Isso ainda vamos ver! Vamos ver…
O Sr. Primeiro-Ministro: — A dívida era de mais de 3000 milhões de euros quando iniciei funções como
Primeiro-Ministro e hoje é de menos de 1300 milhões de euros, Sr. Deputado. Pagámos muitas dívidas na
saúde mas não reduzimos o acesso ao sistema de saúde, não reduzimos o número de cuidados que são
prestados ou de atos que são praticados.
O Sr. João Semedo (BE): — Não diga isso!…
O Sr. Primeiro-Ministro: — Não reduzimos, Sr. Deputado, e isso tem sido demonstrado à saciedade!
Mesmo no que respeita às taxas moderadoras, Sr. Deputado, alargámos o âmbito das taxas de
moderadoras que estão no nível de isenção para os portugueses. Portanto, Sr. Deputado, é ao contrário
daquilo que diz.
Mas, Sr. Deputado, há um milagre que não faço: descer o défice e não poupar mais nada no Estado. Isso
não sei fazer! Talvez o Sr. Deputado saiba explicar-me como é possível fazer descer o défice mas não
encontrar poupanças no Estado, e, em particular, como é possível reduzir o défice e aumentar a despesa
pública, a não ser, evidentemente, aumentando impostos e a receita fiscal. Por essa via é possível, Sr.
Deputado, mas, tirando a via dos impostos, não vejo outra maneira de descer o défice sem descer a despesa
pública.
Portanto, Sr. Deputado, o Governo, até ao final deste mês, apresentará publicamente — ao Parlamento,
aos portugueses, aos nossos credores internacionais, a Bruxelas — o essencial das medidas que vai tomar
para garantir as metas de 2015. Sr. Deputado, fique descansado porque não podemos adotá-las
instantaneamente mas até ao fim deste mês serão conhecidas.
Sr. Deputado, essas medidas revelam o esforço do Governo — e que, no essencial, o País tem estado
disponível para fazer — para manter a confiança no financiamento da economia portuguesa, para manter um